Postagens populares

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Teste do Apocalipse

Apertei o meu joelho
está aqui
o braço
está aqui
puxei a minha língua
pra ver se havia derretido
não derreteu
meu cabelo não caiu
minhas mãos ainda dançam
num teclado maluco
... minha cabeça ainda dói
e acabei de fazer xixi
tenho certeza agora
o mundo não acabou!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Natal Banal

Natal
na loja
do Natal
tudo
banal
supérfluo
normal
monetário
bacanal!

Tofu...

Tofu...
aquele queijinho de soja
japonês?
não, acho que aquele é toffu.
Tofu...
mesmo de cansado

ENOUGH



Far away from my reason
away of my heart
even the sky cried over my head
the crying that was mine
until the night fell dawn
I felt my tears have´t yet gone
I looked for you eyes but
I couldn´t find
... I couldn´t find anything
just the dark of beeing so wrong,
the pain of letting you go
so far ...in my dreams.


,

RE( SENTIMENTOS )



O universo

não é todo dor

nem só felicidade

elástico dualismo

... mágico

como o big-bang

lágrima que percorre a face

ínterrompe-se

pelo sorriso que nasce

Ao meu amigo Antônio Villas



Que me fazem os anos
que me fazem?
Esqueço datas ,números
e sei lá masi o quê,
mas quando o marco da primavera
do ente amigo se perde nos giros cerebrais
eis que me vejo e a cabeça girando:
estou esquecido de datas,
... mas dos amigos, corações queridos,
jamais!
Feliz aniversário, caro Antônio Vilas

Ptolo-Seu



Mais um ano passou
e não fui pra lua...
Problema meu
e culpa de Ptolomeu
que, perdido, ao
Geocentrismo nos remeteu.

SEM CORPOS


 Semblantes
sem turbantes
sem depois
nem antes
sem corpos
cem porcos
nem poucos
nem muitos
sem batinas nem
... sabatinas
ou túnicas
cabelões ou cabeças
raspadinhas
sem corpos
sem porcos
só Luz.

VISÃO DE ORELHAS

VISÃO DE ORELHAS

Silêncio ensurdecedor
lento, sedento
de sorriso
Silêncio reparador
lágrima que não seca
Silêncio estático
escuridão de quem fica
à espera da luz
que não vem.

Lula- Lá



"Lula não sabia...
não se beneficiou do mensalão
Lula não sabia...
porque estava sempre lá
Lula-lá
Nunca onde deveria estar
Lula não sabia...
Lula nunca soube
... o que lhe cabe
e o que lhe coube
Lula não sabia
sequer que existia
Que decepção
traído até pelo Barbosão
Lula não sabia...
era só Caixa-dois
Tão comum nas fatias
Coitado do líder popular
Pa-pu-lar, papo-lá, aqui
Não sabia de nada
Esse camarada
Avá Lula pra lá
Plantar batata
Chega de se ensaboar!

MAYA NO FINAL...MENTE



Pareceu-me
pareceu-me só
que o mundo,imundo
lá no fundo
sempre foi e será
sem dó
moribundo.

ARTE



Eu arto
Tu artes
ele arte
nós artimos
vós artis
eles sentem
como sabem
podem ou
querem.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Lava


Ai minha cabeça
minha alma
meu coração
que (se) despedaça.

Despeço-me de mim
e vou morar no vulcão
lá o fervor é maior
maior que o meu
lá a fumaça oculta tudo
até a minha dor
lava.

Engaiolados.

Prezas
presas
indefesas
Safadeza?
Destreza?
Humanos
desumanos!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

MISTURABOLIÇÃO"

MISTURABOLIÇÃO"

Eu não sou negro
e não preciso ser
para abominar o racismo
eu não sou palestino
e não preciso ser
para defender seu destino
não sou índio
tampouco preciso ser
para com eles ecoar alto
bem em frente ao congresso...
sou todos eles misturados
um bolo oprimido
com cobertura de esperança
 

Ambíguidade

Surdas
mudas
letárgicas
ambíguas
nações
que deixam
morrer crianças
em guerras porcas
Até quando,

 países árabes
ditos irmãos,
calar-se-ão? Até quando
a Palestina será

a barganha do mundo?

Ao Soldado Inimigo:



Sei que talvez não tenhas culpa,
ao menos toda ela...
Bates continência, sentinela
da Terra Prometida,
mas esse meu corpo de nove anos...
que tem com a tua ira?

Essa tua arma certeira...
por que me acerta a alma?
Meu corpo se vai e sei que também sofres.

Quem te manda? Quem te aguça então
a apertar o gatilho?
Estamos sob o mesmo céu
e habitaremos à mesma terra.

Sei que voltarás para a casa aflito...
Abraça a tua prole
que ainda está viva!

Sei que sonharás comigo...
Afaga o teu menino
por mim que já não tinha pai
e deixei de ser filho.

SEMENTES

SEMENTES


Se mentes
semeias
meias
sementes.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Das Cinzas

Dias cinzas
ante o pico de neve
me ponho
à fogueira,só cinzas...
e tu, pele café-com-leite,
em meus sonhos
de brilho, olhares
sem palavras,
tímidos raios
de um sol preguiçoso,
te esqueces de sorrir...
ficas  fria, derretida neve,
que espero até amares,
de novo,no entanto,
quando, raios,
sentirei  outra vez teu calor
e toda a tua verve?

PAU-BRASIL



Branco
disse o índio
mata!

sábado, 13 de outubro de 2012

Re( Sentimentos)

O universo
não é todo dor
nem só felicidade
elástico dualismo
mágico
como o big-bang
lágrima que percorre a face
ínterrompe-se
pelo sorriso que nasce

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

EstagNAÇÃO

Doideira
doida beira
bebedeira
amnésia
ladeira
morta
madeira
cruz
estaca
na bandeira

Luz
canção
perdão...

Cão
raivoso
fétida
dolorosa
ferida
da luta
brasileira.

Samba...
prostitutas
madres
madames
cocaína
na balada
Cheque-mate
no traste
devedor.

Congresso
regresso
tenso
propenso
ao insucesso.

Mulata
boazuda
bazuca
eructante
mundo mutante.

Avante
esperança
manca
juventude
hesitante.

Enaltece-se
a raiz
murcha-se a flor?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Prova do Laço( e da Alma).

Laçador
Laça o pescoço
Torce o dorso
Na arena
Sem dó
Nos lança
Ao pó
Do terror.

Laçador desumano
Somos quadrúpedes
Sentindo dor
Se temos alma?
Não sei
Mas é  certo
Não está ela
A alma
No coração desse moço!

 

sábado, 8 de setembro de 2012

Dilema

Olhos de azul-céu
Olhos de azul-mar
Brilham em foscas nuvens
Do meu eu
Ficar é
Render-me ao teu palpitar.

Olhos tristes
De distância e pesar
Partir é
Esconder-me em parco sorriso
No coração de te  amar.

sábado, 1 de setembro de 2012

Neura Transitória

    Passei na Avenida Brasil, do começo até a região dos Bancos. Pena, não eram bancos,
eram agências bancárias.Nossa cidade bem que precisava de mais bancos, mais praças,
mais gente. Gente sim, pois não vi gente passando, só instituições vestidas de gente, correndo para trabalhar, correndo para pegar o ônibus, correndo para chegar às 14:00 h, logo após o almoço, correndo para aproveitar a última bolinha verde do semáforo, correndo, correndo, correndo...
    No começo, próximo às farmácias( acho que a maior concentração de farmácias por metro quadrado do mundo. Será que estamos tão doentes?!), parecia que o trânsito fluiria normal, sem muitos carros. Só me incomodaram  aqueles "brum-brum...brum-brum" dos pneus passando sobre as grades das galerias pluviais. Meu filho chamava  aquilo de "barrrrrrr"; adorava o ruído, até que se encheu e passou a pedir  para desviar.
    Quando passei pelas lojas de produtos femininos que todas as cidades têm, os carros pareciam se amontoar como brinquedos de encaixe. Estiquei os olhos para ver se havia algum acidente, mas parecia ser uma passeata pedindo mais segurança. Semanas antes um comerciante morrera ali, assassinado por um assaltante.Fiquei triste de novo, relembrando o fato. Mas desviei e peguei uma transversal.Por alguns instantes me senti inseguro, como se fosse morrer dali a algumas quadras.Esqueci-me até da minha rota e do que precisava fazer. Voltei pela JK e me lembrei: Precisava passar numa livraria. Rodei uns quinhentos metros a mais e cheguei ao destino. Estacionando o carro percebi que não estava seguro. Talvez fosse só uma percepção exacerbada, não distorcida .Olhei no entorno procurando algum suspeito. Não havia um perigo iminente, mas todos eram suspeitos,até que eu  tivesse a  certeza de que ninguém me assaltaria antes de entrar no estabelecimento. Consegui estacionar  de primeira,ainda que o espaço fosse pequeno.Sorte que sei estacionar rápido, menos riscos...
       Entrei na livraria e fiquei pouco tempo, pois o que tinha a fazer era rápido. Antes de entrar no carro, de novo o olhar-360 , defensivo, intuitivo,preventivo. Já havia até deixado as rodas meio viradas para facilitar a saída. Esta se deu também de primeira. Acelerei e estava livre de novo de algum assaltante, ao menos até o próximo semáforo.
      Virei à esquerda no sentido Paraguai. Mais um semáforo.Olhar 360, corpo enrijecido, respiração um pouco mais rápida.Dessa vez uma tremedeira também me assolou. Um rapaz bateu no vidro vigorosamente, abaixou a cabeça, corpo colado ao carro, como querendo atravessar a porta numa atitude fantasmagórica. Em fração de segundo cogitei várias possibilidades, desde arrancar numa velocidade sem igual, escapando de um assalto, de um tiro ou de um sequestro relâmpago, até abrir um pouco o vidro e espirrar um spray paralisante que tinha comprado havia muito tempo.Esta hipótese me parecia razoável....vislumbraria, pelo vidro fumê, a sombra do bandido caindo grosseiro e continuaria a dirigir enquanto me acalmava.
     Não consegui avançar o semáforo, também não tive coragem de entreabrir o vidro. Um estado catatônico tomou conta do meu corpo. Paralisado, hesitei em encarar o rapaz que insistiu batendo no vidro com mais vigor. Não tive outra alternativa, por reflexo acabei olhando em direção ao seu rosto, esperando me deparar com uma pistola, um punhal, um pedaço de vidro...
À medida que virava meu rosto e meu olhar subia, minha respiração se tornava mais ofegante e o coração parecia saltar pela boca. Medo, muito medo tomara conta de mim.Ele tinha algo em sua mão direita, não consegui ver o que era, mas havia algo. A sua mão esquerda  que golpera o vidro. A direita deveria empunhar algo. Encontrei dois olhos verdes pequenos, caídos, tipo "olhar de peixe-morto",  cabelos crespos, encaracolados e...um sorriso largo, dentes bonitos e  brancos.Uma voz suave, quase rouca, logo quebrou o silêncio, erguendo a mão direita que trazia uma cesta de vime: -Bom dia, o senhor quer comprar chipa? É da boa!
 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Água da Pedra

Amor que dói
não laça
o sorriso
é trapaça
é coração liso
só espinho no talo
sem flor
perde a graça.

Amor de verdade
é  alquimia
tremedeira
não só sede
de beijo
não só fome
de vaidade
é sentir-se o próximo
no jantar
para se embriagar
com a autofagia
felicidade.


Um grande amor
segue até sem sorriso
para além do universo
se preciso for...

Aquece almas frias
quase petrificadas
lambe feridas
das idas e vindas
sorve água da pedra
faz chuva do vapor.

domingo, 26 de agosto de 2012

sábado, 18 de agosto de 2012

Informação É Tudo.

Segui a Marlene.  Percebi que estava mesmo me traindo.
Ali mesmo liguei o pisaca-alerta, pus as mãos na cabeça pesada e tonta...
Um arrepio percorreu-me a espinha e as lágrimas saíram quentes. Estranhamante minha boca encheu-se de saliva e em seguida a náusea arremessou minha cabeça por entre os joelhos, mas nada aconteceu, exceto um grito surdo eructado de ódio e ressentimento, ecoando por todo o interior do fusca 69.
        Fiquei por alguns minutos encolhendo-me , sentindo frio, tentando entender o porquê de tal traição. "Meu Deus"-pensava- "tantos anos juntos e ela já se joga nos braços de outro. Justo quem? O Tatu, aquele magricela desengonçado, antipático,feio, ridículo. Que será que ela viu nele? Talvez ele tenha dinheiro, não precisa de mais nada. É isso, ela gosta de dinheiro".Mas o cara era pé-rapado feito eu, que eu sabia. A não ser que a família fosse rica. "Só poderia ser..."
      Enxuguei minhas lágrimas com ódio de mim por ter chorado.Espirrei várias vezes , pois o movimento dos meus pés no assoalho do carro fez a poeira se mexer. Fiquei com mais raiva ainda. Sempre tive raiva de ser alérgico. Qualquer poeira e...
     A história já era outra, era vingança. Uma sede de me vingar dos dois tomava conta de mim. Rodei de carro por duas horas, parei no posto para abastecer e fazer um xixi. Pensei em tomar uma cerveja, mas hesitei e logo desisti. Uma cerveja leva à outra e eu precisava estar sóbrio para programar a minha vingança. O Tatu estudava com a bisca; eram unha e carne.Fazinham até trabalhinhos juntos e o escambal. As coisas começavam a clarear. E a turma toda pensava que ele era viado. Hã, viado, um filho da puta , isso sim. Fez-se de cordeirinho, de amiguinho, e na verdade tava papando a minha mina. Lazarento, viado, cachorrro, desgraçado. Fiquei tão irado, que já não pensava direito.No dia anterior ela havia estado comigo, aquela biscate. E assim, na carda dura, no centro da cidade, saindo da confeitaria que a gente sempre ía juntos. Ainda se tivéssemos brigado, se tivesse um motivo, mas...nada, assim do nada. Voltei até onde havia visto os dois , como querendo voltar ao local do crime, mas de outra pessoa, ou de outras, eles próprios. Eis que, não , não poderia ser, o carro do Tatu, de novo estava lá. Que saco, que seria?, Tomaram um sorvetinho e voltaram para uma tortinha do caralho agora?!. Não aguentei, estacionei o carro atrás do dele, aliás dei uma encostada legal no para-choque dele. Encostada não, bati mesmo. Até amassou um pouco,...bastante.   
       Saí do carro bufando , disposto a ...sei lá, dar uma porrada nos dois, dizer um monte de merda...Bati a porta do meu carro tão forte , que o vidro estilhaçou.  Entrei na confeitaria e nada de ver os dois filhos da puta. Fui mais para o fundo, onde havia uma porta tipo bar de cowboy, vai-e-volta. Entrei com o pé dando porrada .A porta da direita voltou primeiro e bateu no meu braço, que eu havia  colocado logo a frente. A outra pegou direto na minha fuça. Senti que ao menos um dente tinha ido pro espaço, mas fechei a boca, estava bravo , muito bravo. E de súbito, enxerguei, meio que embaçado, a Marlene, o Tatu e uma porrada de gente conhecida que olharam para mim com uma cara estranha, uma mistura de pena e alegria e começaram a gritar todos juntos: "Parabéns pra você, nesta data querida...."
       Comi o bolo misturado com o sangue que tinha saído dos  meus dois  dentes, ou o que tinha  sobrado deles. Pedi desculpas ao Tatu. Ah, ele era viado mesmo, o namorado dele até tava lá. E a Marlene, bom , coitada da Marlene, nunca mais vai querer fazer surpresa no meu aniversário. E eu tô fazendo aulas com um maluco lá do bairro, pra ver se melhoro da minha memória e não esqueço mais as datas.
Meu aniversário eu já não esqueço, mas o da Marlene...o da Marlene...caramba, acho que não vou mais gastar com aula porra nenhuma. Vou aprender a usar a agenda eletrônica!
     

sábado, 11 de agosto de 2012

Miragem Noturna.

Preciso de um amor
sedento  que traga
em sua aura
a esquiva da dor.

Que minha alma afague
 o sol busque para perto e
 não esgote o néctar da flor.

Preciso de um amor que faça
mais que um poema
ou uma música qualquer.

Preciso só daquela mulher
aquela dos sonhos embebidos
em saudades e verdades
que sequer ainda sonhei.

Preciso de um papel em branco
raso
que engula  minhas lágrimas negras
e meu sorriso vago.

Preciso da água do mar
a mesma que beijou sua pele
e que lave todo o meu pesar.

E no devaneio
molhado me dispo
de pudores e vestes
deleito-me nas ondas da lembrança
dessa pura fantasia.

Meus sorrisos, decido,
serão sonoros
quase gargalhadas
se eu a encontrar.

Preciso do seu olhar doce na onda
salgada e arenosa...
Preciso de você na praia da noite-lua-música
de tantos verões, invernos e ausências.

sábado, 28 de julho de 2012

Nessa Pressa

Pressa
Cessa
a vida
à beça
maceta
o tempo
inventa o
contratempo
lamacento.

Lamento!

Pressa
nessa
naquela
vida
atrapalha
o contemplar
do sol
e do vento.

Pressa de ir
e vir
pressa de vestir
e despir...

Pressa
da testa
chegar antes
que o refletir.

Pressa do sentir
sem se abrir
pressa funesta
que consome o presente
e o futuro defenestra.

O "depois" chega antes
e o "depois" se torna tarde
para que se possa ressentir.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Sonho de Silvana

     Silvana fechou a porta do quarto, deitou-se no chão
e chorou a noite toda.
    Seu quarto era uma mistura de cores
e também de personalidades. Seus quinze anos apareciam
rosa na parede ao lado. Seus trinta, na foto da moto, do outro lado. Seus setenta, na frente, fixavam-se num quadro de tinta sobre tela.
Seus cem anos, na parede de trás, onde também  havia uma janela branca,
 exteriorizavam-se em retratos em  preto-e-branco com o marido e os filhos.Sua vida toda estava ali, resumida, nua, ora colorida,ora tosca .Durante o dia os raios de sol tangenciavam quase todas as paredes, menos a que tinha as mais antigas lembranças.Mesmo assim, todas exibiam uma magia sem igual, como se fossem o aglutinar do espaço-tempo, temperados com sorrisos, lágrimas e saudades.
     A solidão era crônica e reagudizava-se a cada tentativa de dormir. O sono tinha-se tornado um bóson de Higgs, instável e fugaz, outras vezes, o próprio buraco negro onde as lembranças desapareciam:-Velhice é uma merda, pensava.
     Ainda que sua vida tivesse-se tornado  história nos livros ginasiais, não sentia que tinha importância alguma. Não sem seus entes queridos.-Ah, por que só eu fiquei? Por que tanta dor? Antes que terminasse de se perguntar respondia pronta: -Mas que sorte a minha vivi tanto e tão feliz...
     Doze horas se passaram e Silvana não sabia se estava dormindo ou acordada. Os raios de sol deram lugar a uma chuva torrencial e o vento uivava levando folhas que batiam no vidro da janela, aparentando querer entrar e levar também aquele corpo débil. A velha senhora olhava a cena com a cabeça para um lado e o corpo para o outro, roupas retraídas, cabelos enovelados, deixando claro que a noite fora de inquietos mexe-mexes de um pesadelo ou de um  delicioso sonho de menina no parque. Ela não se lembrava. Meio-dia e era hora de tomar seus remédios, mas quais, quantos? Talvez estivesse desidratada. A sua boca seca e os olhos fundos denunciavam que o fim poderia estar próximo. Súbito percebeu que a chuva cessara e o sol voltara a brilhar. Não tinha, entretanto, forças para levantar, abrir a janela e sentir o frescor daquele início de  primavera.
       Fechou novamente os olhos e aí  foi  que viu uma imensa  janela branca abrindo-se suave, esplendorosa, convidando-a  a ser o sol que tangenciava as paredes. Todas elas.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Apatia.

Sem sombra de certeza
não sei aonde ir
a que porta bater
a quem (e o que) prometer
e quanto sorrir.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ínterim na Guerra

Dize
que pensas
que vês?
Dize
quem ,de quem,
está à mercê?
Dize
quais os caminhos
sem espinhos?
Quais os bares
sem sangue e
as ruas sem mortos?Onde
entardeceres sem gritos e
rosas não murchas?
Dize!
Dize quem somos
e quem és?
Senta aqui
curemos mutuamente
as feridas da mente...
Só por este dia
vamos sorrir felizes
e enquanto há trégua
sobreviver.

sábado, 9 de junho de 2012

Humana Raça Una

Sou irascível
só com  pretensos desiguais
As alegrias compartilho
só com transcendentais.



domingo, 3 de junho de 2012

Primavera


Nas cidades
longínquas
quaisquer
que cruzes
juventude
pensa futuros
sem distância
de corações
sem muros
sem guerra
só luzes.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

São Paulo,Santa?

       Milena chegou à casa cedo; Despiu-se,calçou os chinelos e foi direto ao banho.
"Que saco"-pensava ela-"Por que essa merda de transporte público não funciona?"
Enquanto passava um shampoo de algodão e aveia, massageando vigorosamente
o couro cabeludo,deixando os negros fios sedosos em pé, parecendo uma medusa, começou a repassar o seu dia, para ver se não se  esquecera de  nada.
       Lembrou-se daquela manhã fria de outono, os espirros que dera-sempre espirrava de manhã ,por uns dez minutos.Tinha-se esquecido de comprar o antialérgico. Deu mais uma estudada na matéria e foi encarar a prova de Geografia .Enfrentou um trânsito pesado,presenciou um assalto e um atropelamento de moto."São Paulo é uma merda mesmo. Moro aqui na casa do cacete, estudo na puta que pariu e trabalho na bosta do centro. Perco quase duas horas a cada ida e vinda.Preciso mudar dessa merda de cidade". Enquanto pensava alto lembrou-se de  que finalmente era sexta-feira:"Ah, a sexta-feira promete,vou me acabar na balada do Dj Miltinho, aquele gato. Se ele não fosse casado..."   
       Muitos pensamentos borbulhavam em sua cabeça, enquanto embebia a sua pele com um sabonete líquido e fragrância de rosas. Começou massageando os ombros,depois o pescoço e a barriga de modelo. Quando chegou às pernas, sua mãe bateu à porta e com um grito amável deu-lhe o recado:"Filhinha, a Bia tá no telefone,quer saber se pode passar aqui"
"Tá, mãe,fala pra ela vir que eu já tô terminando".Desligou rápido o chuveiro e passou a toalha nas costas. A toalha branca contrastava-se com sua pele morena,  e assim mais  pareciam uma pintura refletindo-se no espelho, ou uma foto antiga, daquelas revistas da década de cinquenta. Não daria tempo para secar os cabelos. A Bia morava pertinho e no máximo em dez minutos estaria ali."Vou secar os cabelos sim, porque lá fora já tá friozinho e tô sem meu antialérgico".
        A Bia chegou, como de costume sentou-se à mesa da cozinha e ficou de papo com dona Lara: "Dona Lara, como é que a senhora tá se virando depois da  morte do seu Donizete? Só vocês duas , deve ser uma barra, né"?
A mãe de Milena balançou a cabeça, esboçou um sorriso, respirou fundo e tentou uma explicação:"Ah, minha filha, a vida prega cada peça na gente! Já se passou um ano e ainda não
consigo esquecer. Ainda mais sabendo que foi aquela biscate que causou tudo. Se ele não estivesse no motel com ela, se não tivesse bebido, não teria batido o carro...
E o duro é que a piranha, me disseram, já tá com outro; Mais um trouxa pra cair na sua teia. Mas é isso, minha filha , a gente vai levando. O duro tá sendo pagar as contas  que ele deixou. Mulherengo, cachaceiro e jogador. Eu poderia ter achado alguém melhor"! Bia ouvia tudo atentamente, com uma mistura de raiva do falecido e pena da mãe de sua melhor amiga. No instante em que a conversa sofria uma pausa melancólica, Milena apareceu na sala, linda, sorridente, radiante, cheirosa.O vestido verde, acima dos joelhos,bem acima,também era generoso nos ombros, nas costas  e nos seios. Um colar simples deixou o conjunto ainda mais elegante e sensual. Logo deu um beijo  na amiga, igualmente linda,  e as duas saíram  para a balada: "Tchau, mãe,não me espera, hein?" "Tchau, meninas, divirtam-se, mas cabeça no lugar tá"?
        Pegaram o elevador e engataram uma fofoquinha: "Nossa, Milena do céu, você viu a Mara, viu o que ela fez? Engravidou de um cara lá daquela cidadezinha de merda, agora vai casar e morar lá, pode"?  "Deus que me livre, Bia, não troco São Paulo por nada nesse mundo. Nem por homem nenhum, nem mesmo o Miltinho! Amo essa cidade, amo essa bagunça, as baladas, até o cheiro de poluição me faz falta, quando viajo, sabia"? Saíram do elevador, pegaram o carro na garagem e foram para o agito da noite. Enfrentaram um pequeno congestionamento. Nada mais que uma hora. Aproveitaram para falar da Aline, a moça  que,segundo sua mãe, havia sido a responsável pela morte do pai."Ela já deu mole até pro Miltinho!Mas, hoje eu pego ele"! gritou  Milena, entre gargalhadas e espirros, enquanto cruzavam a Avenida Paulista. 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Brasileira E Brasileiro

Sei não Zé, sei não,
o tempo passô,
nóis votô,
você si ferrô,
eu si ferrei,
tudo nóis si ferremo
e os home lá em cima
ainda roba mais que ladrão.
Que é que fazemo?
Sei não, Maria, sei não.
Ara home,larga a mão sô,
ocê bem que podia pegá uns escrito,
uns apareio de som da igreja,
reuni o pessoar todo
e fazê passeata, que nem nos oriente!
num podemo ficá de mãos parada
e eles levando tudo de bandeja.
Sei não, Maria, sei não.

domingo, 6 de maio de 2012

     Caídos ,Mas Escrevendo
Quisera estar no Salão
ver amigos e livros de montão
mas estou de molho
com dor na cabeça, no olho
na testa e no pulmão.
E meu amigo Antônio,coitado,
caiu no ladeirão,
bicicleta traiçoeira, também a lombada,
puseram-no ao chão...
Machucou a face,agora enfaixada,
também não foi  ao Salão.
Estamos cá ,não na solidão,pois
em pensamento estamos aí,
pelos estandes e pelo saguão.
Aos amigos um grande abraço,
logo voltaremos à nossa estrada,
oxalá esbanjando, todos, saúde,
inclusive nós dois,
jogando palavras fortes como aço!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Tetê

Fica ligada
Alguém te vê...
(Fique ligada
tv)-comando de voz
é sensacional.

Fica de lado
Tetê
Vou até aí
comer o enrolado...

Cuidado, o forno,
o forno queima,
meu corpo queima
de saudade de te ter.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ah,Caneta!

Caneta azul
vermelha
caneta preta
anjo e capeta
caneta perneta
luneta e escopeta
caneta triste
caneta alegre...

Caneta velha
velha caneta
amiga careta
caneta amor-e-ódio
caneta da minha vida
caneta da minha morte
meu mote
minha vinda e minha ida
caneta, querida caneta!

Elô

Elô,
sorriso farto,
brancas pérolas
a refletir sonhos
em face de flor.

Verdejante olhar
como folhagens
em jardins de praia:
Talvez miragem,
palmeira no deserto
a se espraiar...
Talvez oásis pleno,
talvez o próprio mar.



domingo, 15 de abril de 2012

A Caneta Dança

Quatro paredes me engolem,
o monitor mastiga a minha cabeça
e o teclado rosna...
O sol pisca na janela marrom
anunciando o dia cálido.

O condicionador de ar
me condiciona: "sem condições"!

Os livros técnicos ora espiam,ora fogem...

A caneta dança, pula, claudica,
a se esfregar, disléxica,
em desenhos clínicos,
letras piréticas
golpeando o papel passivo
e terminando mais um relatório médico.
Venceram o teclado e
sorriem: Missão cumprida.

Como um bom-bom
sem me levantar, faço um suco e
tomo; Dá sono mas, fico acordado,
estafado. Escrevo
letras patéticas e sorridentes,
agora no teclado tagarela:
Verso com meu corpo do avesso,
minhas palvras reversas ,ora secretas,
ensimesmadas, dão gargalhadas do nada...

A caneta dorme, fatigada,
o monitor vai fechando as pálpebras,
o condicionador de ar suspira comigo,
o teclado insiste em continuar mas,
o monstro-mouse engole tudo.


Dia bom, cansativo;
O esqueleto dói,
os olhos ardem de atenção e
ressecamento, sem ressentimentos.

Seco a umidade da mão,
fecho as portas,
faço as malas do "rush",
ajeito de novo a mesa
e vou para a casa
achar outros sorrisos
e outros sons.






domingo, 8 de abril de 2012

Quem ( que) sou?

Sou preto
sou branco
amarelo
e vermelho.

Sou eu
sou algo
alguém
ninguém

Sou tudo
sou nada
alguma
coisa.

Coisa não

Sou luz
luz  preta
branca
amarela
e vermelha.

Sou.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Ana Rita

Ana Rita
Mulher-sorriso
amiga que sempre tive
sem nunca ter sabido
alegria de acaso e improviso
coração que se me deu
num mundo paralelo
Ana Rita
o elo
a alma rica
o abraço sincero
o amor de amigo tão belo
e belo é pouco
pra tamanho amor que quero
seja sempre sentido.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

domingo, 1 de abril de 2012

"Di Amantes"

Fecho os olhos,
pesadas pálpebras
de pecados metálicos,
e choro, encolhido,
trepidando a minha angústia
em despudorados soluços,
pelo ocaso, sim, e mais
por tua face estar
mais triste que a minha.

Tens a beleza de um anjo,
e também seu brilho a molhar...
a exorcizar  escuras montanhas
entristecidas de devaneios vãos.


Tua agonia sangra-me a alma,
então derramo, com o último beijo,
o meu último grito:-Volta!

Verto lágrimas, em sintonia
com meu coração, que pesam
tanto quanto a distância
que,dilacerado, fiquei de ti.

Vejo teu sorriso parco
e teus cabelos lânguidos
a sufocar suspiros...

Sinto tua face triste
quando me desato do teu
onírico abraço
sem fim.

Agora o que faço?

Sei que o meu beijo viste
esvair-se como a névoa,
dissipando-se pela noite
pouco a pouco, até se tornar
somente uma noite escura.


Meu mundo de anjos  escasso
e de vampiros repleto,
a se degladiar,
me leva ao fundo pífio,
infinito, do não-encontrar.

Apelo para a saudade,
nosso mais forte elo...

Vejo teus olhos tristes, mas
Vertendo lágrimas "di amantes",
cristalizando, talvez,
pedaços de alegria
que embebem nossas vidas
com amor e dor
que não cabem em ti,
que não cabem em mim.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Diálogo da Esperança.

-Vou colorir minha palavra: Te amo!
-Vou descolorir a minha: Foda-se!
-Vou vomitar um arco-íris.
-Vou engolir um terremoto.
-Vou te sorrir até o fim.
-Vou cortar você de mim.
-Vou te seguir até o céu.
-Vou mandá-lo à merda.
-Vou sempre ter esperança.
-Você é quem dança.
-Vou te seguir pelos sonhos.
-Sim, pelos sonhos, sim.

Comida Indigesta

-Bom dia, alunos! A diretoria comunica que o professor Atahide morreu. Comeu  galinha estragada.Morena. Ficaremos sem aulas por três dias.
-E viva a galinha, diretora!

domingo, 18 de março de 2012

O CASAMENTO QUE NUNCA OCORREU



      A ferida não cicatrizava.
Depois de tanto tempo, e para ela parecia ter sido ontem, Sabrina lembrava-se dos passeios de carro ,dos sorvetes ,dos cinemas, do primeiro beijo...Lembrava-se do namoro de dez anos. -Dez anos! Meu Deus quanto tempo!-pensava ela ontem à noite antes de dormir. E dormiu. Dormiu e sonhou exatamente com ele, Francisco, seu primeiro, único e eterno amor. Sonhou com todas as coisas boas que passaram juntos, sonhou com o casamento que não ocorreu naquele ano de 1991, com as gargalhadas em noites de festa, sonhou com o êxtase da paixão... e sonhou, sonhou, sonhou tanto que não queria acordar. Mesmo que quisesse não conseguiria. Parecia estar numa catarse provocada por drogas potentes. Mas nada tomara, somente os anos que se transformaram em sonhos. Era a única coisa na qual se apegara.
      Deveria ter esquecido toda aquela história. Deveria ter vivido um outro amor, uma outra paixão avassaladora ,mas...mas Francisco estava impregnado na alma, no coração, nos sonhos. Virava-se na cama como criança. Vez por outra chorava como criança. Poucas vezes soltava gargalhadas, em conversas oníricas sem sentido, como criança.
      Às duas da manhã acordou assustada, gritando:-Não, Francisco, não, não! Ficou tremendo mais de cinco minutos mesmo após tomar um copo de água com açúcar. Tentou dormir outra vez , e outra, e outra, até que conseguiu, e dessa vez dormiu um sono profundo e silencioso, anestesiada pela solidão que a assolava havia décadas. Não sonhou mais com ninguém, com nada.
      Acordou cedinho, às 6 da manhã, como de costume, e foi regar as plantas, como também de costume. Naquela manhã elas pareciam mais alegres, como saudando a primavera que acabara de chegar. Em seu jardim tinha bromélias, orquídeas, rosas, jasmins. Também tinha palmeiras, duas, e um pé de jabuticaba que ela adorava. Estranho, mas a orquídea branca, com tons de lilás, aparentava sorrir-lhe; tinha um brilho intenso, uma umidade suave que lhe percorria todo o caule. Sabrina sorriu enquanto a fitava e regou-a lenta e calmamente.             
       O sol já despontava entre duas grandes figueiras centenárias que davam um frescor a mais ao ambiente. O jardim era cercado de arames finos que ela mesma esticara. Todo o jardim,aliás, ela quem organizara havia mais de vinte anos. Foi a forma que encontrou, depois de muito tempo, de amenizar a falta que Francisco fazia. Nessa manhã pensou na felicidade que teve e na que deixou de ter, quando ele se fora. Tudo estava pronto, as flores , os convites, a igreja, os convidados...Mas na hora "h" o noivo não apareceu. Todos pareciam não acreditar , muito menos Sabrina. Após um zum-zum-zum daqui e outro dali, cada um tentando dar uma explicação para o ocorrido, Carlos chega ofegante e revela que a polícia havia levado seu irmão. Sua atividade política, antigoverno, era intensa e dessa vez pesava sobre ele a acusação de assassinato de um membro do serviço secreto. Não deram explicações coerentes. Simplesmente levaram-no para a prisão e ele nunca teve chance de provar a inocência.
       Sabrina sabia, todos sabiam que Francisco era ousado, crítico ferrenho do sistema, mas não seria capaz de matar qualquer ser humano. No entanto, de nada adiantava a sua idoneidade num governo ditatorial e corrupto. Naquela semana completaria quarenta anos da sua prisão. Sabrina não sabia se estava vivo e preso, ou morto,... se ele estivesse preso , mas vivo, ela estaria satisfeita. Por outro lado- pensava- mas... e se o torturaram, se ainda o torturam? -Melhor que tenha morrido, para não mais sofrer. Essas idéias antagônicas brigavam em sua cabeça e deixavam-na maluca. Nunca quis saber de outro homem, de se divertir, de olhar a vida sem o seu único amor.
      Não tinha mais esperanças. Sabia que aos sessenta e oito  anos poucas chances havia de qualquer final feliz. Mas aquela manhã foi especial, o almoço Sabrina comeu sozinha, não, sozinha não, na companhia de Papagus, um papagaio alegre e Malcom, seu gato preto, ambos companheiros de longa data. Conversaram os três, e comeram, e beberam(água). O vento começou a soprar no fim do almoço, antevendo uma chuva rápida, mas esta frustrou-se e a coisa só ficou na ventania que fez cairem folhas amarelas do ipê da vizinha ao lado. Sabrina apressara-se para levar a louça para dentro, pegar uma vassoura e varrer aquela folhagem. Mais um dia estava-se passando, com poucas alegrias, algumas tristezas e muita, muita saudade. Sua casa era simples , mas aconchegante. Por fora exibia tijolinhos marrons e telhado bege; as janelas de madeira davam um charme a mais ao local que aparentava estar numa fazenda, mas estava em plena cidade de Caracas. Sabrina era professora de línguas e aposentara-se em 2021. Após dez anos recebendo o dinheirinho( bem "inho" mesmo), ela passou a dar aulas particulares de Inglês e Francês para pessoas que estudariam fora, tentando uma vida melhor. Conseguiu juntar uma graninha extra. Para uma mulher sozinha estava de bom tamanho.
      E a tarde já ía caindo de vez, e o vento voltou, agora mais suave e sem trazer as folhas da árvore vizinha, posto que vinha  do sul. A madrugada prometia ser suave e acolhedora. Súbito Sabrina ouve baterem à porta, três toques suaves, tímidos, graves. Pensou ser a vizinha que vez ou outra vinha pedir sal, gelo ou farinha. Mas aqueles toques eram diferentes. Por um instante um frio percorreu-lhe a espinha, fantasiou ser o seu amado, como fazia de costume, chegando após um dia árduo de trabalho. Atravessou a cozinha pequena e organizada e ao chegar à sala diminuiu o ritmo dos passos, o frio na espinha deu lugar a uma palpitação desenfreada. Hesitou, vagarosamente levantou a mão em direção à maçaneta, ao mesmo tempo em que dirigiu a sua cabeça ao olho mágico. Não viu ninguém, tentou o outro olho, e nada. Fixou então a sua orelha na porta, tentando escutar algum ruído. Nenhum som. Por alguns segundos pensou em voltar à varanda dos fundos, onde poderia ter a ajuda dos bons vizinhos se fosse preciso ,mas percebeu que não haveria perigo se abrisse a porta. -Ter medo de quê, pensava ela,-Não tenho medo de nada , só não quero sentir dor. Apertou vigorosamente a maçaneta redonda e bicuda e num só golpe girou-a e abriu a porta . Como esperava, não havia ninguém. Antes de fechar a porta percebeu que havia um envelope no chão, branco, fino, longo, sem selos, apenas a escrita "Para Sabrina Vargas". O medo, a expectativa, as fantasias, pareciam ter-se acabado. Deveria ser mais uma propaganda de lojas. Pegou o envelope, abrindo-o sem muito interesse. Percebeu um papel cuidadosamente dobrado e escrito a mão. E o frio na espinha e tudo mais o que sentiu voltou à tona. Leu em voz alta, de forma trêmula, não pela idade , mas pela emoção: " Ao único amor da minha vida:  Sinto muito por não ter podido dar notícias antes. Escrevi centenas de cartas e certamente você não as recebeu, pois não obtive resposta alguma. Os militares não nos deixaram casar e tampouco nos corresponder. Não me torturaram, mas me privaram de saber de você; e isso foi pior que qualquer tortura. Minha esperança é que você esteja bem de saúde e que tenha reconstruído sua vida. Na prisão tive muito tempo para pensar em nós, nos filhos que poderíamos ter tido, na felicidade que poderíamos ter compartilhado. Depois de um tempo só pensava na sua felicidade. Nem sei se você ainda vive, terei que esperar para saber. Encontre-me , se puder, às 20:00 ao lado da Igreja Matriz. Se você não aparecer, eu entenderei.
Beijos saudosos ,do seu Francisco".
      E terminando de ler aquelas palavras, Sabrina soluçava e ria ao mesmo tempo, não acreditando, não entendendo, mas adorando o fato de ele ainda ser o seu Francisco. Claro que não hesitou em se arrumar e ir ao encontro do seu amado. A Igreja ficava perto dali. Foi caminhando e exalando o mesmo perfume do dia do casamento. Ter-se-ía vestido de noiva se seu amado tivesse pedido, e se não se sentisse envergonhada, com os seus quase setenta anos. Quando chagava próximo ao local marcado viu um “belo jovem” também na casa dos setenta anos, com terno cinza-claro e os olhos mais azuis que o céu daquela tarde, antes do ventania. E ventava novamente... Francisco não mudara tanto, continuava um homem alegre, ele sorria, e atraente. Seus cabelos grisalhos não se escassearam tanto e sua face continuava rosada. Não engordara. Parecia estar mais forte, mas não gordo. E à medida em que ía se aproximando Sabrina sorria mais e mais, e soluçava, e ria, e chorava. Ambos começaram a apertar os passos na tentativa e ânsia de chegar mais rápido ao abraço que durara quarenta anos para acontecer...e aconteceu, numa mistura de lágrimas e beijos e sorrisos, muitos sorrisos .
      Corpos trêmulos, cabeça nas nuvens, como se não houvesse chão, nem céu , nem quaisquer pessoas no mundo exceto eles. Ficaram assim por um bom tempo, e ficariam pelo  resto de suas vidas.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Falecido Hesitante

Féretro
fere-o!
Finito,
fútil,
fétido,
fenece.
Foi!

A Leveza do Ser

    "A leveza do ser está na sua capacidade de sorrir". Eliza pensava nessa frase que vira numa propaganda e finalmente sorriu. Mariano não se conteve e foi conversar com a moça. Trocaram gentilezas, carícias na face , mãos e  números de telefone.
Passava das duas da manhã e a danceteria lotada dava sinais de cansaço. Afinal, era uma quinta-feira. Noutro dia teria trampo  logo cedo. Bem que poderiam ter-se conhecido no início da festa.
Ainda houve tempo para duas músicas românticas, com dancinha de corpos colados e beijinhos.
      A madrugada bem que se poderia estender e perpetuar a magia, mas a festa estava mesmo  no fim. Despediram-se com a promessa de se  reencontrar no sábado.Eliza não parava de pensar naquela frase,"A leveza do ser está na sua capacidade de sorrir".Pegou seu carro no estacionamento da avenida  Jorge Schimmelpfeng, um fiat uno branco arregaçado, ano 86, e dirigiu rumo à sua casa, na vila A ."Que noite", pensava ela, lembrando de tudo e de todos que a fizeram sorrir. "Por que não sorrir? A vida é uma só, devo alegrar-me, conhecer pessoas,...ficar feliz". Por alguns instantes ficou deleitando-se com a imagem de Mariano paquerando-a, falando bonito e tentando impressioná-la. Vinte e um anos, seis namorados e duas internações para desintoxicação. "Que currículo o meu"-pensava, ironicamente, lembrando-se das matérias que ainda tinha que estudar. Seus amigos já haviam terminado o curso de psicologia e ela ali, patinando, doendo-se, corroendo-se, sorrindo para não chorar, sorrindo para ser leve...Como era difícil.
      Passou o pontilhão que leva ao Paraguai, quando viu o Testa na esquina. Ele olhou fixamente, reconhecendo o carro e fez um gesto rápido, como pedindo carona. Eliza hesitou, mas dez metros a frente parou e deixou-o entrar:
-E aí, princesa, vai uma pedrinha aí?
Eliza tirou o dinheiro da bolsa com as mão trêmulas, pegou duas pedras de crack e logo gritou:
"Me dá aqui essa porra, desgraçado, toma essa merda de dinheiro e some, não quero te ver nunca mais!"
Arrancou cantando( ou tentando cantar ) os pneus quase carecas e um pouco mais a diante estacionou numa rua quieta e sinistra; acendeu o cachimbo e acabou com a fissura. Ficou alucinada, foi em direção a Itaipu ainda fumando a segunda pedra. Já via cobras e elefantes cor-de-rosa... falta de ar e palpitação fizeram-na tossir e quase vomitar. Gostava de ir até a entrada de Itaipu. Naquele horário quase sempre estava deserta.
      Enquanto o carro ziguezagueava, e a sua cabeça também, imagens da sua infância passavam pela sua mente em flashes que exibiam sorrisos com Cíntia, sua melhor amiga. A rua onde morou, as brincadeiras com bonecas, a "bola queimada" e o "bets", os primeiros namoradinhos. Tudo causava-lhe sorrisos intermitentes, então voltava a ver os elefantes e sentir gosto de bosta pelo quase vômito. "Ah, que fiz de novo? por que fumar de novo, de novo e de novo?" As perguntas que  não conseguia responder ecoavam como um sino que badalava seu cérebro. "E o Beto, por que o Beto me deixou? Por que me deixou, e ainda grávida? Aquele filho da puta não poderia ter sumido assim"
Lembrou-se de quando fizera o aborto e quase morrera de infecção. Tinha só quinze anos. Beto na ocasião fugira para o nordeste e nunca mais deu notícias. Uma só transa, a primeira, e ela engravidara.
      Chegou à entrada de Itaipu.O policial ficou atento, olhando de longe aquele carro barulhento, sujo e se entortando para um lado e para outro. Antes que pudesse fazer o contorno e ir para sei-lá-onde, desmaiou sobre o volante acabando por bater no portão de ferro ao lado. O policial, percebendo que era uma moça e estava desmaiada, aproximou-se, tentou conversar , puxou seu ombro, tentou chacoalhar sua cabeça para tentar reanimá-la. A cena era triste, com odores de álcool, crack ,vômito e morte, havia um cheiro de morte iminente naquele carro. Incrivelmente o policial percebeu que Eliza sorria, não aparentava sinal algum de sofrimento, nem fraturas, nem sangue, nada. Como última tentativa colocou os dedos na parte lateral do pescoço e constatou  que  havia pulsação. Ela ainda estava viva. Imediatamente chamou uma ambulância que rapidamente chegou ao local.Os profissionais colocaram um tubo em sua garganta para ajudar na respiração. O soro e os medicamentos corriam soltos. Em direção ao hospital, o enfermeiro percebeu que Eliza estava com o punho direito cerrado.Abriu seus dedos com cuidado e pegou dali um bilhete amassado. Desamassou-o com lágrimas nos olhos de quem vê uma linda menina sofrendo para sorrir. Tinha a idade da sua filha mais velha. Ao abrir o bilhete percebeu uma letra feia, tremida, como escrita às pressas.Largou um sorriso e enxugou as lágrimas, lendo em voz alta : "Quem me vir nesse estado me ajude.Quero sorrir de novo. Hoje joguei minha última pedra na cruz".
      A ambulância acelerou e ligou a sirene...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Guerra Iminente

Insanas mentes de guerra
feitas e d`onde o ódio emerge,
que fizeram
para merecer tal castigo
os inimigos seus?
Do poder emana a sanha,
temo,a acabar com a Terra
brincando de Zeus!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O Tímido e a Loira

     Parecia estar em transe. Entrou no ônibus, sentou-se na primeira poltrona da frente.
Suspirou e deixou cair uma lágrima e depois outras tantas...
Um arrepio correu-lhe a espinha e o coração pareceu saltar-lhe pela boca.
Celina tinha 32 anos e era loira, bonita de cabelos escorridos, olhos grandes como duas bolinhas de cristal.
      A face clara contrastava com o batom escuro, um vinho- escuro. Não pintava as unhas porque tinha alergia, mas batom,esse sempre tinha que passar. A sombra nos olhos já estava borrada e um soluço acabou escapando. Algus passageiros ouviram. Juliano, sentado logo atrás, na fileira ao lado, sentiu um nó na garganta ao ver aquela bela jovem já  em prantos. Ficou imaginando o que poderia ter-lhe acontecido, se um namorado chutara-lhe a bunda, se tinha perdido um ente querido, se tinha reprovado de ano na escola...
      O que a teria feito tão triste, tão agoniada? Ele, um rapaz de 20 anos, franzino, de cabelos negros e encaracolados, tímido, não conseguiu chegar mais perto, ainda que a poltrona logo ao lado estivesse vazia. Começou a ter palpitação, falta de ar, só de pensar em sentar-se lá e puxar uma conversa. Desistiu e continuou a disfarçar o seu desejo ora de ajudar aquela mulher, ora de aproveitar o ensejo e passar-lhe uma cantada. Olhava para a frente, para o nada, e vez por outra fixava o olhar naquele rosto angelical. Antes de olhar de novo para a frente, passava rapidamente os olhos por todo o seu corpo de sereia, enfiado em um vestido tubinho preto e sustentado por pezinhos 35, suavemente envoltos por uma sandalha bege com salto moderado."Que mulher", pensava ele. "Nunca teria chances com ela". Se talvez ele pudesse ao menos ajudá-la, bater um papo para distraí-la. Não, não seria capaz. Sua timidez o impedia e , além do mais, o que iria dizer? O problema dela deveria ser muito sério e ele, hum, ele mal conseguiria falar  o próprio nome, quanto mais dar algum tipo de conselho ou dizer uma palvara bonita . Nem piada sabia. Se soubesse, poderia contar uma e quem sabe ela sorriria. Ah ,mas essa maldita timidez...Sua origem simples obrigou-o a deixar os estudos e aos 14 anos começoua trabalhar como "office-boy"num escritório de contabilidade. Depois de 3 anos mudou de empresa. Trabalha  hoje numa loja de aparelhos celulares, voltou  a estudar  está no 3 ano do ensino médio. Quer fazer Economia e para pagar os estudos faz bicos de DJ todos os sábados à noite.
      Parou a palpitação e ele se acalmou. Também ela. Uma freada brusca do motorista e todos gritaram, menos os dois. Só sentiram um solavanco e logo voltaram a permanecer cada qual em sua angústia.
      O calor de Foz estava terrível e de repente começa a chover. Todos os que estavam do lado das janelas apressaram-se em  fechá-las.O calor aumentou. "Cacilda", pensou ele, Já estou suado feito uma mula em fim de turno e agora  essas janelas fechadas. "Merda, merda, merda. Agora fudeu". Celina nem se lixou, janelas abertas, fechadas, tanto fazia. O importante, mais importante, era a sua tristeza naquela hora. Os soluços deram lugar  a uma cara macambúzia , os olhos sempre fechados e uma tromba que parecia um filhote de elefante, um elefante bonito, mas um elefante. Ela saíra da faculdade, teria que chegar em casa, não sem tomar aquela chuvarada toda ,evidentemente, e depois ainda estudar para a prova . 32 anos e ela ainda era uma estudante,sempre uma estudante. Já era a terceira faculdade. Chorou como uma menina. "Que teria acontecido?"- ainda tentava descobrir Juliano. Ele percebera que se tratava de uma estudante, pois levava uma bolsa branca e em cima dela dois livros, um de "Direito Constitucional" e outro de "Direito Tributário". "Cacete, agora que eu não chego mesmo, a mina é muito crânio".  Depois de quase vinte minutos, finalmente os lábios de Celina ficam mais relaxados, desfaz-se a tromba e os olhos já não estão úmidos. Ela olha para trás e percebe os olhos fixos de Juliano. Esboça um sorriso e , antes que ele pense em retribuir, deixa sair  palavras doces, com uma voz rouca, quase grave:-Nossa que interessante né, as coisas acontecem com a gente quando menos se espera. Juliano de início não acreditou que ela puxara  assunto,mas finalmente superou o medo-palpitação-timidez e também sorriu:" Estou vendo que você está muito triste, estava até chorando, o que aconteceu?" - Ah, você nem acredita, acabaram de roubar o meu celular, num assalto. Estou tremendo até agora. E o pior de tudo é que toda a minha agenda e os meus trabalhos estavam lá. Juliano ouvia com cara de espanto e dó, com vontade de acariciá-la, passando-lhe calma e carinho. "Mas me diga uma coisa, ele agrediu você, machucou-a de alguma forma?"
-Não, por sorte não. Melhor assim ,né?!
"Claro, o celular você arranja outro. Apesar de que as informações que estavam nele...essas você perdeu". -Pois é, isso que está me deixando triste, não gosto de perder nada na vida.
"Olha, por coincidência eu trabalho numa loja de celulares. Se você precisar, faço um precinho bom para você"
_ Ai, que fofo, obrigada, você é muito gentil, mas eu preciso de um celular hoje. Não tenho telefone fixo e me comunico pela internet através dele, pra falar com as amigas, sabe?
"Olha, eu estou com a chave da loja. Podemos ir até lá e aí você escolhe um celular"
_Ah não , mas eu não quero incomodar.
"Que isso, vamos lá , não vai ter ninguém e , além de vendedor, sou responsável por abrir e fechar a loja. A dona confia bastante em mim"
  Juliano convence a linda moça e lá vão à loja de celulares.
No caminho Juliano já fantasiava o que fazer naquela loja, após vender o celular para a moça. Poderiam transar ali mesmo... "Não, melhor não forçar assim. Ela parecia uma pessoa tão legal, tão inteligente, tão centrada. Não transaria assim". Por outro lado, se não fosse hoje talvez não houvesse outra vez.
     Celina aparentava estar mais calma , até sorriu várias vezes e sequer parecia ter chorado. Quando chegaram até a porta da loja já beirava as 19;30h, apenas chuviscava e o calor continuava sem tréguas. A porta era daquelas tipo armazém, de correr para cima;a fachada era simples,com textura azul-claro. Não havia alarme, o que facilitava a entrada dos dois. Não passavam muitas pessoas naquela rua escura da Vila Portes. Quando Juliano alcança o interruptor de luz, antes de acioná-lo recebe um soco no ombro e logo em seguida um revólver  molhado e gelado encosta em seu ouvido. No outro ouvido uma voz rouca,quase grave, sussurra: "Aí babaca, perdeu, coloca só os melhores celulares aqui nesse saco que eu sumo da sua vida e você some da minha. E lembre-se, eu não gosto de perder nada na vida, nunca perco". 

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Simples e o Chique, Quem sabe?

Fique chique Monique
fique zen Karen
Stéphany Caroliny
venha cá com o Richard
comer escargot da Margot!
Leonard, cadê o Washington?
Deve estar andando de bike...
Falando nisso
aonde foi o Mike,
ainda tá mexendo no i-pod?
esse carnaval vai ser o canal
não sei mais o que pode
ou o que não pode
se somos ainda brasileiros
ou aspirantes a europeus
ou americanos quem sabe...
Tô com saudade dos João Henriques
e dos Josés,até dos manés!
onde estão as Marias,as bonitas marias,
as Maria Bonitas?
onde estão os simples Chicos e Anas?
Vou procurar o meu filho James Jandicleisson
e perguntar :aonde foi a simplicidade? 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Mente Poeta

Põe ética
põe na reta
põe ereta
a cabeça
põe ordem
desobedece
a ordem vigente
de gente careta
põe de lado
o pensamento
de mentes fétidas
mente poeta
que és frio
inconsequente
mente no palco
e nos livros...
a história
é de mentira
de verdade
o sentimento
mente não nega
sem lágrimas
sem lamento
não fiques calado
é tempo de palavras
que não sejam ao vento.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Quem manda?


Subitamente a mente surtou,
quis sabotar o coração.
Prontamente este respondeu:
... Nao sucumbirei,
sou eu quem abriga o amor
sem condições,
sem tempo, sem lei.
Sou eu quem enlouquece
e, enlouquecido,mais sábio
que a mente pareço.
As histórias em meu seio se juntarão,
sem fim e sem começo,
e as lágrimas não serão em vão.
Eu sou quem abriga a briga
só por um segundo
porque o palpitar rápido fá-la desaparecer
de paixão, assim, tão de repente.
Sou ávido por alegria, sou cor e ação,
sou eu o surto da felicidade,
quem sempre boicotará a mente
com tantas sensações.

Viagem Rápida

Vapt-e-vupt
é a vida:
um sem-número de sensações
e um chutar a bola na descida.

Saudade

Na rua, árvores,
folhas e o vento;
No peito, o aperto,
que fere e cura,
embalsama o tempo.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Morte recorrente

A casa estava escura, tv fora do ar,
na verdade uma quitinete, pequena e imunda.
Via-se somente um pequeno abajur ao fundo.
A torneira do banheiro pingava
... e o odor de urina misturava-se com o de jasmim.
A mesinha redonda sustentava um vaso
que, em forma de ampulheta,
abraçava a flor, linda e nova.
Um copo de cachaça caído ao chão
rachara e transformara-se em dois cacos.
Pedro, estendido no sofá, ainda sangra:
Grave ferimento no coração.
Morrerá em poucos segundos,
sozinho, como sempre, às três da manhã.
Todas as madrugadas ele morre assim.

O Lema

 Siga o meu lema
nenhum lema há
só há no amor
e no perdão
vozes a ecoar.

VIVA A TELEVISÃO



Tubo eletrônico viciante
que entra por osmose
e tranca nossa mente
... junto com os dementes.

Televisão que fala as
mais puras verdades
e as mais deslavadas mentiras.
Parece uma extensão do ser humano,
com suas incertezas, erros e acertos.

Televisão, vida real, vida virtual,
mostrou corpos que não eram,
mostrou guerras (ganhas?)
injustas, pútridas.

Televisão que mostrou o que
devemos e não devemos ser.
Televisão virulenta...
animal.

Às vezes converso com ela
de igual para igual,
às vezes vejo um filme
um desenho com os filhos
umas piadas ou um jornal.

Mas na maioria das vezes ela me apunhala
quando lhe dou uma chance,
me enfia goela abaixo mentiras frias,
subliminarmente, subverte minhas lágrimas
e meus desejos e meus sorrisos. Outras vezes
faz com que eu, perna-de-pau, até dance.

Televisão bandida, televisão amiga,
televisão mais ou menos.
Televisão dos adultos,crianças e bebês.

Elétrons psicodélicos trafegando velozmente
e entrando nas casas com nossa anuência.

Televisão local, internacional, estatal,
Ah, a televisão estatal é show,
pura venda do bem-estar humano
em troca do pensamento. Isso é infernal!

Esse milagre da ciência,lamento,
está infectado com faustões e BBBs
com enlatados vencidos nas matinês.
Televisão, lamento por nós,
lamento por você.

Não obstante, viva a televisão, viva!
Não é porque está infectada
que ela vai morrer.



Reencontro

Sorverei o teu perfume
de mulher-flor-puta-santa
até que me embriague.
Lamberei a tua orelha pálida,
... de boneca, quase mordendo,
até sentir-te o gosto salgado.
Segurarei o teu colo sedoso
e a tua cintura ao lado,
contemplarei a tua aura pura
enquanto choras ,entre gozos
e lamentos,num revirar de olhos,
só para ouvir sussurros
de amor fatiado pelo tempo.
As línguas se encontrarão
trêmulas e sedentas...
Virá súbito sorriso, enfim,lento
e duradouro.Felicidade terá chegado.

Evolução

Queria ser somente
uma mente absoluta
absolutamente.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

UNI VERSOS




Hoje vou devorar a luz
sair da mente e
entrar no cosmos.
... Hoje vou me iludir
fingir que a tristeza
não existe, vou sem pesar
implodir no pensamento
e depois me expandir
como um buraco negro
que quanto mais se expande
mais vazio fica.
Hoje vou sorrir sem motivo
( há que ter? )
e depois chorar meu teimoso pranto.
É assim ,sou um pedaço do universo
ora lacônico, ora cíclico
feito "big bang" .
Vou devorar a luz,
beber um copo de lágrimas,
depois vou dar gargalhadas
antes de dormir.
Amanhã...amanhã acordarei
irradiando luz pelas orelhas.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Cavalo Manso

Sou cavalo manso
não falo
não descanso
sou cavalo manso
não quebro
não manco
sou cavalo forte
trabalho até a morte
mas não me tape a boca
com esse freio de ferro
que eu mal grite
não me fira com pontapés
sem que eu revide
não me lance o chicote
que eu sangre
sou cavalo manso
suba em minhas costas
que eu vou galopante
até as montanhas e os mangues
por entre rios
e sob o sol escaldante
mas não menospreze
o meu potente coice
sou cavalo manso
sou cavalo forte
trabalho até a morte
fosse uma galinha ou boi babão
poderia comer minha carne
mas poderia montar-me ?
não, certamente não.
Respeite-me, cavaleiro
sou seu mais antigo amigo
trate-me com respeito
e consideração!

Tragicomédia



Zomba de mim vida
zomba
zomba de mim morte
zomba
vem não tão lenta
que me cause dor
nem tão veloz
que me cause espanto.

Pura verdade



A mente humana
mente
para o coração
que mente
para a mente desumana
guerra de titãs
vamos mentir
que falamos verdades
em verdade
é tudo mentira
até este poema.

Vida Feliz


Antes sufocante,
sem amor
depois dele, a dor,
o durante é inexplicável...
não rima com nada;
Verdadeiro sabor da vida
mas,...a vida rima sim
com despedida. Não!
vou rimá-la desrimando,
vou rimá-la com felicidade.