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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Noite de Dante




Viro-me na cama
os enigmas da madrugada
perseguem minh'alma em chamas.
Nem sei se estou acordado ou ferido,
as lágrimas derretem o homem de barro,
o choro de desespero é um grito mudo
ou no máximo um soluço.
Súbito acordar ,
efêmera consciência dos fatos,
segue novo coma no leito das lembranças.
É hora de levantar
e ver o sol queimar minha solidão.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sabadão.

    
    Eram cinco da manhã. Elza e Tereza encontram-se no ponto de ônibus.
O morro parecia calmo nesse sábado. Trocaram  algumas   palavras  e sentaram-se.
O ônibus não chegava e o sol já estava alto.
Descobriram que havia greve dos motoristas por melhores condições de segurança,
assim, de   última hora.
     Resolveram faltar ao trabalho. Não era culpa delas.
A praia ficava a dois quilômetros. Decidiram caminhar, tomar água do coco,
enquanto fofocavam coisas da empresa.
      A praia começou a lotar. Talvez muitos trabalhadores
pensaram o mesmo que Elza e Tereza: pegar uma praia.
Estavam elas de bermuda e camiseta, ambas soltas e leves, mas
biquini teria sido melhor.
      Das três águas de coco, passaram a cinco cervejas e dois baseados.
Voltavam já à tardinha, entre piadas e gargalhadas, com hálitos misturados.
Sorte que comeram duas porçoezinhas de frituras e uma deliciosa torta de abacaxi.
Assim o estômago não chiaria  tanto. Além disso , tinham chicletes na bolsa,
para o caso de encontrarem seus namorados, funcionários da polícia e
protetores do bairro nas horas vagas. Eles só chegavam depois das oito da noite.
Daria tempo até de tomar banho, escovar os dentes,  passar um perfume importado e
vestir aquela roupa cara, presente do último Natal.
      Quando estavam  bem perto de casa ,depararam-se com uma guerra franca no morro.
Deram meia-volta,  foram tomar sorvete e pegar um cinema. Não havia o que fazer.
Ambas moravam sozinhas, cada qual em seu pequeno e humilde barraco.
A hora era de fugir e sobreviver. Foram ver Tropa de Elite-2. Dessa vez conseguiram pegar
uma besta-lotação. A greve dos motoristas de ônibus continua.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CASA DE AVÓS



Somente a cadeira velha na sala:
madeira marrom,desbotada,
encosto estreito e pés angulados.
O entardecer deixa passar a aura do horizonte
 pelas cortinas rasgadas de um tecido secular.
O assoalho, também de madeira ,só não range
porque não há quem o pise. Fantasmas flutuam...
As lembranças ficam em algum lugar entre o lampião
e as paredes de tábuas e balaústres cor-de-palha.
A pequena janela com quadrículos brancos, envidraçados,
alguns vidros quebrados, quase deixa uma pomba entrar.
O odor é uma mistura de óleo de peroba, vela e mofo.
Vez ou outra uma pessoa passa na calçada,
sem atenção, nem percebendo a casinha velha.
Outros cômodos já não existem. Só a sala
e os fantasmas que nela flutuam.
Não conseguem pisar o chão,
nem sentar na cadeira. Mas ainda sentem o cheiro
dos jasmins, das rosas e do passado feliz...
E todos os dias contemplam o lindo entardecer
que insiste em atravessar a janela.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Mocidade Fugaz

Lúcido, pútrido
fútil,inútil,
segue a vida do velho
outrora lindo, viril...
Moças e moços,
serão vocês poços
de uma insensatez pueril?
Esquecem que o velho
é somente o espelho de seus rostos
na implacável máquina do tempo?

Dia de Napalm.

Luz, festa
de Natal
aos mortos de fome
consome
feito calor de bomba
de Napalm.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Oculto

Prolixo,lixo me torno
pois você não me vê.
Fixo em minhas neuras,
manias, lembranças
de um encontro onírico.
Quisera sonhasse ao mesmo tempo
que você,
talvez invadindo o sonho seu...
Quem sabe assim me veria
e saberia da minha dor
de estar acordado e tão perto
sem sequer você saber.

Interrogação

Subverto as  idéias:
Caí anjo do céu
tornei-me homem
aprendi todas as perguntas
mas as respostas...
essas devem estar em outra dimensão.
Meus sonhos subvertem o universo,
por quê?

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Dia da vingança

Vesti minha melhor cara
despi-me da minha melhor roupa
e dormi a manhã toda.
Estiquei a  preguiça no sofá
acariciando-a para ficar mais,
um pouco mais junto a mim.
Dormi de novo até o meio da tarde,
os passarinhos me acordaram-sacanas!
Por que os passarinhos têm tanta pressa?
Por que as pessoas têm tanta pressa?
Levantei-me tonto do sono longo,
intempestivo sono, maluco,
resolvi não resolver o irresolúvel
pensei em não pensar o impensável:
Hoje só quero me vingar do tempo.

Encantamento

Percorri,sedento de alegria,
as ruas cheias de corações pétreos
de gente petrificada
sem sonhos, ao menos os meus,
até chegar sob os teus olhos de luz
a me ofuscar a mente
e me causar sorrisos vãos.