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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

SINAIS DESPERDIÇADOS.

   Semáforo fechado. Sílvia retoca o batom.Calor infernal.
Afonso encosta ao lado, fumando.Trocam olhares.
Ele sorri e ela desdenha. Tem mais o que fazer.
   Sinal verde.Sílvia vai dar  aulas. Dureza  mulher
cinquentona manter-se no emprego.Sem marido então...
Afonso, sessentão, vai afogar-se num drink com um amigo:
Muito recente a separação, com três filhos.
   Os semáforos piscam só no amarelo,
depois da meia-noite. As ruas estão solitárias.
Também os corações de Sílvia e Afonso.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sulcos

Sulcos do meu cérebro
são caminhos sinuosos
 que não consegui percorrer.
São muitos pontos de interrogação
que se emendam e comprimem
 a resposta do que é meu destino.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Luto do Anjo.


    Coça a cabeça lateral com o dedo médio.
Não ficará sofrendo a viuvez por mais três anos.
Aqueles cabelos louros, pele café-com-leite, face
rosada e sorriso perfeito, sem contar o corpo escultural...
Seria uma ofensa à Natureza ficar sozinha.
    Tira o vestido preto na sala mesmo e vai até o quarto.
Abre o armário, pega o mais lindo vestido de festas.
Uma seda azul com brilho celeste.
Deixa separado enquanto toma um banho demorado. Sábado de primavera promete...
    Prepara-se com maquiagem e perfume típicos dos seus vinte e cinco anos.
Liga para Fábio, seu antigo namorado, e deixa um recado na secretária eletrônica:
-Fábio , eu sempre o amei e ainda o amo. Preciso de você.
    Aguarda dez minutos . Parecem dez anos, relembrando toda a sua vida.
Casara-se de barriga. Seu pai, um general aposentado, obrigou Venâncio, de dezoito anos ,a
lavar a sua honra, sem pensar na felicidade da filha.
Marta tinha então vinte e dois anos. Casou-se sem pompa e com poucos sorrisos.
No sexto mês de gestação perdeu o bebê. Nunca contou a ninguém que era portadora do vírus
da AIDS.
Venâncio viu-se desobrigado a continuar aquela farsa. Pediu o divórcio e mudou-se para São
Paulo. Lá seria mais fácil receptar as drogas . O Rio de Janeiro já estava na mira dos policiais e
também das milícias.Estava na flor da idade. Queria curtir a sua vida, ainda que desregrada.
    Passaram seis meses e Venâncio foi morto num suposto acerto de contas, covardemente
crivado de balas nas costas.
Marta não deu a mínima para a sua morte . Além de estuprador, ele sabia que era
portador do vírus e não quis nem saber.Não contou, nem usou camisinha.
    A depressão veio mesmo quando soube do casamento de Fábio e Ângela. Esta, de anjinho só
tinha o nome. Sua melhor amiga lhe passara a perna. A sorte é que não tiveram filhos.
Passados os dez minutos, Fábio liga de volta:
-Marta, também quero vê-la. Encontre-me no Terra-Sul bar. Lá é discreto e ninguém conhece a
Ângela.
-mas,...e ela?
-Foi para a casa da minha sogra. A mejera está nas últimas.
-Às onze ?
-Combinado.
    Os dois chegam praticamente juntos. Cumprimentam-se numa abraço demorado e estalam
dois beijos molhados nas faces sorridentes. O ambiente chique exibe luzes baixas, com poucas
pessoas e som ameno. Conversam muito, dão gargalhadas, revivem os velhos tempos...
Foram três anos sem se verem ou se falarem.
Parecia um casal perfeito numa noite perfeita.
    De súbito Marta fecha a cara. Parecia não acreditar.
A anjinha do mal acabara de entrar,bufando, soltando fogo pelas ventas.
Aos berros entrelaça suas mãos nos cabelos de Marta e num giro circense levanta-a da cadeira,
ignorando a tentativa de intervenção do marido. Vão atracadas até a sacada do grande recinto.
Estava uma noite linda, estrelada e com um vento suave. Mas os gritos e xingamentos
acabaram com toda a magia. De simples briguinha de mulheres, a coisa vai ficando mais séria.
    Os puxões de cabelo são substituídos por socos, chutes, tapas. Num dos golpes desferidos,
Ângela vai ao chão, com o nariz e a boca sangrando. Ainda semi-deitada, puxa uma pequena
pistola prateada de sua bolsa vermelha, aponta-a em direção à rival e ameaça:
-Sua vaca, biscate, quer roubar o meu marido, é?
Marta fica estática diante daquela ameaça assustadora, mas nem por isso deixa de falar as suas
verdades.
_Vaca é você, vadia, traíra, que se dizia minha melhor amiga e roubou o meu homem.
    Fábio assiste atônito ao triste espetáculo, posicionado entre as duas, braços entreabertos, com
um olho na pistola e o outro na sua amada. Temia pelo pior. Os garçons ficam escondidos e a
maioria dos clientes já havia saído, desesperada.
    O gerente já chamara a polícia e espiava ao fundo, vez por outra escondendo-se atrás de um
pilar.
Fábio intervém como pode:
-Calma gente. Ângela, abaixe essa arma. Você vai acabar fazendo besteira. Deixe isso para
lá, vamos conversar.
-Conversar o que seu paspalho, maldito, você é outro que não vale nada!
    Enquanto a discussão parece polarizar-se, Marta aproveita a distração da rival e num rápido
salto apoxima-se, tentando pegar a pistola. Ambas se atracam novamente. Dessa vez Fábio
tenta ao máximo neutralizar os golpes de sua inconseqüente esposa. Poucos segundos depois
ouvem-se dois tiros, gritos e finalmente o trio separa-se. Fábio leva a mão ao peito sangrante:
_Ângela, o que você fez?
    As duas mulheres ficam emudecidas, enquanto Fábio cai grosseiramente ao chão. As fragrâncias
femininas misturam-se ao odor quente do abundante sangue de Fábio. Tanto sangue perdido não
poderia deixar alguém vivo.O blazer cinza não escapa da mancha medonhamente vermelha e
tampouco a camiseta branca que usava por baixo.
    A voz de Marta finalmente sai:
-Sua assassina, olhe o que você fez, olhe sua piranha, desgaçada!
E dizendo isso deita-se ao lado de Fábio , aos prantos, tentando, em vão, acordá-lo .
Ângela não diz nada. Afasta-se passo a passo, para trás, peplexa, com os olhos ainda naquele
trágico espetáculo. Usava um vestido longo branco que contrastava com a sua linda pele
morena.As alças longas quase deixavam os seios a mostra.Os grandes olhos verdes pareciam
ainda maiores e mais brilhantes.
    Sem perceber e antes que Marta tentasse avisá-la do perigo, Ângela desequilibra-se na cerca de
um metro e meio e despenca do vigésimo andar.
Marta chega tarde , após outro grito,dessa vez agudo e rouco, e volta a se agachar perto do seu
amado.
Finalmente estavam juntos, mais perto que nunca. Viveria agora o seu verdadeiro luto.
    Hoje, dois meses após a morte de Fábio e Ângela, Marta presta assistência a adolescentes,
vítimas de estupro, numa ONG do Rio.
Não poderá te filhos, devido ao problema da primeira gavidez que exigiu a retirada do útero.
Teria dito isso ao Fábio naquela noite. Mas não houve tempo. E o céu estava tão lindo.Não
permitiria histórias tristes.

LEITE BOM PRA GENTE RUIM



POLÍTICOS LÍTICOS
JURÁSSICOS
CHEGA DE TOMAR O LEITE ALHEIO
MAMADO EM TETAS GROSSAS
DOCES TETAS DA DÓCIL MÃE GENTIL
OU SUBTRAÍDO DAS CAIXINHAS DA ESCOLAS
ORA- BOLAS
O LEITE BOM É PARA OS BONS MENINOS
E MENINAS DO BRASIL
LEITE BOM PRA GENTE RUIM
SÓ TERMINARIA EM INDIGESTÃO
DA DEMOCRACIA PUTA QUE OS PARIU!

sábado, 15 de outubro de 2011


Sobre a ''Lavoura Arcaica'':



Entre a fome e a ânsia
de luz
há um lapso para comer
orações
e vislumbrar sonhos.


Omar.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

PRECISO FALAR DE MIM
HOJE TENHO UMA TAREFA
PRECISO FALAR DO MEU "EU"
ESSE DESCONHECIDO
UMA TAREFA TÃO DIFÍCIL,
COMPLEXA, TRAIÇOEIRA...
FOSSE FALAR DE UM PEDAÇO DELE
TALVEZ ENCONTRASSE ALGO FÁCIL
COMO O SEU NARIZ TORTO
OU O SEU OLHAR
DE PEIXE MORTO,
MAS, FALAR DESSE "EU" PROFUNDO,
DESCOLADO E LONGE DE MIM
É TÃO COMPLICADO!
PODERIA FALAR DOS SEUS SENTIMENTOS
SEUS AMORES, SUAS ALEGRIAS,SUAS DORES
SEUS SONHOS DE MENINO...
QUE BRIGOU POR PAIXÃO, PELA VIDA...
QUE TANTAS GARGALHADAS DEU COM SEUS AMIGOS
QUE TANTAS LÁGRIMAS DERRAMOU, EMPUTECIDO,
POR MULHERES LINDAS E VOLÁTEIS COMO AS NUVENS.
POSSO FALAR DA SUA POESIA,
SEU PRINCIPAL ABRIGO
POSSO FALAR QUE , APESAR DOS TOMBOS,
PROCURA POR PAIXÕES, SEMPRE,
POSTO QUE SÓ SE ALEGRA COM ELAS
A PAIXÃO POR TODO O UNIVERSO
QUE É UM GRANDE ENIGMA.
ORA UMA TRISTE CELA
ORA UM MATERNO VENTRE.
POSSO FALAR DOS SEUS MEDOS
MEDO DE AVIÃO, DE CANHÃO, DE SEPARAÇÃO
MEDO DE PERSEGUIÇÃO, DE DITADURAS E MENTES MOLES.
MEDO DE ERRAR, MEDO DE TER MEDO.
 
POSSO FALAR DO SEU MEDO DE NÃO AMAR OU
DE AMAR DEMAIS. E O DOLOROSO ENREDO
DE NÃO SER AMADO.
MAS, FALAR DO "EU" ASSIM
TÃO TODO, TÃO EXPOSTO
TÃO ISOLADO...CHEGA A DAR UM FRIO NA BARRIGA,
É COMO TER UM FANTASMA ACIMA DE MINHA CABEÇA
E EU DEITADO COM MEU CORPO DÉBIL
ESPERANDO O MOMENTO DE NOS REENCONTRAR.
NÃO SEI SE CONSIGO FALAR DESSE "EU"
ELE TALVEZ TENHA MUITOS PEDAÇOS
ORA SOLTOS, ORA COESOS,COMO TANTOS OUTROS ´´EU"
PEDAÇOS, SÓ PEDAÇOS IMPERFEITOS
VIVENDO NUMA NATUREZA PERFEITA..

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

DÚVIDA

        
Não sei se os teus olhos falam
o que a tua boca porventura oculte
Não sei se os nossos corpos se
colarão um dia
Num descompasso de palpitação mútua...

Não sei se perderemos o fôlego, tamanha paixão,
e transpiraremos
Numa louca noite de amor,
ou se choraremos
de tanta saudade da noite  que não ocorreu.

Se um dia falaremos com todas as letras
ou se o ferimento no coração será só  meu.

Não sei se os lábios se encontrarão trêmulos,
sorridentes,
Ou se afogarão em lágrimas que verteram ,tristes,
em faces de pedra.

Não sei se o destino é a favor ou contra,
ou se o que o escreve é o coração.

Não sei se verei esse desfecho
Mas  apenas sonhar
contigo ao meu lado
 me faz feliz por um segundo.
É como  se estivesse sempre contigo
Sem nunca ter estado.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O QUARTO DE JEANE

Quarto negro e laranja
Quarto não
Sala de aula
Pessoas falantes
Não
Amantes da alma
Conversas paralelas
em semilua
Vidas nuas e cruas.
Estamos à beira da rua
Lupah é o lugar
Anjos são essas lindas pessoas
a cantarolar.


Este poema fiz em cinco minutos, durante a aula inaugural
da professora e amiga Jeane Hanauer, em 04 de outubro de 2011.

VAI EMBORA, MAS NÃO ME DEIXES

Olha no olho do furacão
Pra ver se me encontras lá
Vê minha alma pequena
De tanto me estrepar.

Sê a minha tara
De te ver passar.
Foge do meu grito
Arranca-me do pesadelo
Da mula-com-cabeça
Com cabeça de infinito.

Pára no sinal
Daquela avenida esquisita
Deixa o meu corpo débil entrar.
Acaricia a minha cabeça
E antes que eu adormeça
Me beija a face doída
De tanto me estrepar.

Some no horizonte
Que eu sou um rinoceronte
Que só quer trepar.

Volta e me acolhe
Não me deixes na rua
Pra eu não mendigar
Uma palavra tua.
 
Vai embora
Volta
Me abraça
Me solta
Entende
A minha hora.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Cronópios

Participei da aula inaugural da professora e escritora Jeane Hanauer. Uma oficina de poesia, ou melhor dizendo, da arte poética.
A Jeane,assim como eu, é dessas pessoas que vêem poesia em tudo, na alegria, na tristeza, no sol, na chuva..
Teremos encontros uma vez por semana, por 2 meses. A aula inaugural foi nota 10.
Tenho a certeza de que os próximos encontros serão igualmente prazerosos.
Quem tiver interesse, http://www.jeanehanauer.blogspot.com/
Abraços.

Mente poeta.

Caríssimo blog. Hoje parece que o pari. Pelas mãos e pela boca,eu o pari.
Diferente. Antigamente as colegas de escola tinham diários e caderninhos
para anotações de amigos, para servir de  recordação.
Sinto-me mais ou menos assim,só que com um microcomputador.
Mas, aqui há a instantaneidade generalizada. Todos vêem, escrevem e trocam
informações ao mesmo tempo. Interessante como o micro parece ser uma extensão
da nossa mente. Aliás, cabe aqui uma explicação do nome ``mente poeta``.
Quis mesmo dar esse duplo sentido: ``a mente que faz poesias'',ao mesmo tempo
em que o imperativo afirmativo sentencia ``mente tu, oh poeta'',pois  tua obra depende de
encenações, fantasias, que são mentirinhas literárias.
Vou mentir muito nesse blog, já que o poeta precisa fingir-se apaixonado, desiludido, irado.
Muitas vezes escreverei verdades, pois os sentimentos verdadeiros, às vezes, sobrepõem-se à ficção
e então ganhamos um lindo poema autobiográfico. Esta é a beleza da poesia. podemos ser nós mesmos
ou fugir de nós.Podemos ser a personagem ou nos refugiarmos nela.
A poesia é um fato, uma constatação, não uma escolha. Não há como negar que existe poesia ao nascer
do sol ou num lindo entardecer, como não há como negar o ar, o mar, a Terra.
Todos somos poetas. Cada um pode gostar ou não disso, mas é um fato. Não há nada mais poético que o
primeiro choro de um lindo recém-nascido.Poesia pura que diz ''Estou aqui , mundo! Cheguei para ficar e lutar''. Uma poesia épica. Que dizer daprimeira paixão? Pura poesia no olhar derretido e tímido. E com ausência de palavras. Somos todos poetas. Só não sente quem não quer.Ou quem ainda não nasceu.