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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Noite de Dante




Viro-me na cama
os enigmas da madrugada
perseguem minh'alma em chamas.
Nem sei se estou acordado ou ferido,
as lágrimas derretem o homem de barro,
o choro de desespero é um grito mudo
ou no máximo um soluço.
Súbito acordar ,
efêmera consciência dos fatos,
segue novo coma no leito das lembranças.
É hora de levantar
e ver o sol queimar minha solidão.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sabadão.

    
    Eram cinco da manhã. Elza e Tereza encontram-se no ponto de ônibus.
O morro parecia calmo nesse sábado. Trocaram  algumas   palavras  e sentaram-se.
O ônibus não chegava e o sol já estava alto.
Descobriram que havia greve dos motoristas por melhores condições de segurança,
assim, de   última hora.
     Resolveram faltar ao trabalho. Não era culpa delas.
A praia ficava a dois quilômetros. Decidiram caminhar, tomar água do coco,
enquanto fofocavam coisas da empresa.
      A praia começou a lotar. Talvez muitos trabalhadores
pensaram o mesmo que Elza e Tereza: pegar uma praia.
Estavam elas de bermuda e camiseta, ambas soltas e leves, mas
biquini teria sido melhor.
      Das três águas de coco, passaram a cinco cervejas e dois baseados.
Voltavam já à tardinha, entre piadas e gargalhadas, com hálitos misturados.
Sorte que comeram duas porçoezinhas de frituras e uma deliciosa torta de abacaxi.
Assim o estômago não chiaria  tanto. Além disso , tinham chicletes na bolsa,
para o caso de encontrarem seus namorados, funcionários da polícia e
protetores do bairro nas horas vagas. Eles só chegavam depois das oito da noite.
Daria tempo até de tomar banho, escovar os dentes,  passar um perfume importado e
vestir aquela roupa cara, presente do último Natal.
      Quando estavam  bem perto de casa ,depararam-se com uma guerra franca no morro.
Deram meia-volta,  foram tomar sorvete e pegar um cinema. Não havia o que fazer.
Ambas moravam sozinhas, cada qual em seu pequeno e humilde barraco.
A hora era de fugir e sobreviver. Foram ver Tropa de Elite-2. Dessa vez conseguiram pegar
uma besta-lotação. A greve dos motoristas de ônibus continua.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CASA DE AVÓS



Somente a cadeira velha na sala:
madeira marrom,desbotada,
encosto estreito e pés angulados.
O entardecer deixa passar a aura do horizonte
 pelas cortinas rasgadas de um tecido secular.
O assoalho, também de madeira ,só não range
porque não há quem o pise. Fantasmas flutuam...
As lembranças ficam em algum lugar entre o lampião
e as paredes de tábuas e balaústres cor-de-palha.
A pequena janela com quadrículos brancos, envidraçados,
alguns vidros quebrados, quase deixa uma pomba entrar.
O odor é uma mistura de óleo de peroba, vela e mofo.
Vez ou outra uma pessoa passa na calçada,
sem atenção, nem percebendo a casinha velha.
Outros cômodos já não existem. Só a sala
e os fantasmas que nela flutuam.
Não conseguem pisar o chão,
nem sentar na cadeira. Mas ainda sentem o cheiro
dos jasmins, das rosas e do passado feliz...
E todos os dias contemplam o lindo entardecer
que insiste em atravessar a janela.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Mocidade Fugaz

Lúcido, pútrido
fútil,inútil,
segue a vida do velho
outrora lindo, viril...
Moças e moços,
serão vocês poços
de uma insensatez pueril?
Esquecem que o velho
é somente o espelho de seus rostos
na implacável máquina do tempo?

Dia de Napalm.

Luz, festa
de Natal
aos mortos de fome
consome
feito calor de bomba
de Napalm.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Oculto

Prolixo,lixo me torno
pois você não me vê.
Fixo em minhas neuras,
manias, lembranças
de um encontro onírico.
Quisera sonhasse ao mesmo tempo
que você,
talvez invadindo o sonho seu...
Quem sabe assim me veria
e saberia da minha dor
de estar acordado e tão perto
sem sequer você saber.

Interrogação

Subverto as  idéias:
Caí anjo do céu
tornei-me homem
aprendi todas as perguntas
mas as respostas...
essas devem estar em outra dimensão.
Meus sonhos subvertem o universo,
por quê?

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Dia da vingança

Vesti minha melhor cara
despi-me da minha melhor roupa
e dormi a manhã toda.
Estiquei a  preguiça no sofá
acariciando-a para ficar mais,
um pouco mais junto a mim.
Dormi de novo até o meio da tarde,
os passarinhos me acordaram-sacanas!
Por que os passarinhos têm tanta pressa?
Por que as pessoas têm tanta pressa?
Levantei-me tonto do sono longo,
intempestivo sono, maluco,
resolvi não resolver o irresolúvel
pensei em não pensar o impensável:
Hoje só quero me vingar do tempo.

Encantamento

Percorri,sedento de alegria,
as ruas cheias de corações pétreos
de gente petrificada
sem sonhos, ao menos os meus,
até chegar sob os teus olhos de luz
a me ofuscar a mente
e me causar sorrisos vãos.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Lapso triste

Lábios cerrados
profanos,insanos
lágrima que desce
esquecida
de amores perecida
face petrificada
de lamúrias
contempla o céu sinistro
só há a sinfonia da chuva
e a fragrância úmida das flores:
Respiro gotículas de esperança.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Salime

 Se saí do aconchego
do teu ventre balsâmico,
única morada conhecida
da inconsciente vida aquática,
Donde ainda te causava náuseas
e dores,foi para encontrar teu
colo feito de leite santo,
saído da alma,
e de um amor puro , feito de Deus.
O resto de ti, mãe,mulher valente,
sabemos,é feito de aço
para suportar,por mim,
as minhas dores.
                             
 

domingo, 13 de novembro de 2011

Noite em Claro:





Chorei a tua ausência
tanto e continuadamente
que me esqueci do amanhecer...
É hora do almoço
os pássaros já não cantam
tamanho é o calor.
O coração gélido se fecha
e se racha em dois
No gelo também se congelam as mágoas
A saudade não.

Balança da Vida

Tive dias bons e ruins
Ainda os tenho
Pesam mais os dias ensolarados
Que me dão passeios no jardim.

Festival Literário



 Quisera estar em São José
dos Pinhais.
Lá as araucárias frias
 se empinharão de palavras
de puro magma
vindas de corações vulcânicos.
.

Sem sombras

Sigo com sono
na a sombra
da minha ignorância
Acordarei de madrugada:
inventarei a luz sem sombras


Sultão de Periferia

Mesmo tendo sangue azul
Não anseio as maiores riquezas
sigo em vida simples
Fechei a piscina e a discoteca
da mansão. Oneram muito
Bastam-me um só jatinho
duas mercedes
e três ou quatro mulheres
que me amem de verdade.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Elo

Sou um umbigo
cercado de mim mesmo
por todos os lados.

PACOTE


Seja a minha amada
Seja
Seja a minha amante
Seja
Seja a minha amiga
Chega
De ser o salgado
Sem ser a carne
Chega
De ser o petisco
Sem ser a cerveja

QUOTIDIANO DA PAIXÀO

 
No brilho dos teus olhos
No trilho do meu braulho
No fio da meada
Da trepada
No puto da minha cara
Do fundo da minha tara
Na tara do teu fundo
Na vara.
Nos cílios da tua xana
Minha pica se apaixona
E faz escara.
No bico do teu bico
Deliro moribundo
E sigo pra outro mundo
Com a força de uma cavalaria.
E no calor do teu peito
Cansado e feliz me deito
Já com saudades do teu riso.
E depois do vulcânico orgasmo
a póstuma calmaraia
o delírio da magia
da incessante alegria
de morrermos na madrugada
e revivermos no raiar do dia.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

EN( DESEN) CONTROS


De novo você vem
De novo você vai
A lágrima desce em quem
Sabe que dessa vez
você não vai mais voltar
o sol veio triste
apagou-se na solidão cinza da nuvem
as estrelas sequer aparceram
o frio castiga os mendigos
a neblina tem a forma de um fantasma
misturam-se o sono e os soluços.
ouço o silencio...não!
Vejo o próprio silencio
transformado na pedra muda ao meu lado
a chuva quase vem, mas o frio vence.
Noite sinistra:
Será longa a minha dor.
Vou mesmo dormir na pedra do meu silencio.
 

LÍBANO


 
LEÕES TE PERSEGUEM
E TAMBÉM AS HIENAS
NAO SEI QUEM É QUEM
DEVERAS,
SÓ SEI QUE TU
TU ÉS A OVELHA!
GUERRA VELHA
SEM REGRAS, SEM FOCO,
DE TODOS CONTRA TODOS
E NINGUÉM CONTRA NINGUÉM!

PESADELO


Fria madrugada,frio
Martírio no delírio do
Sono profundo
Repleto de outro mundos.
Madrugada fria
Frio leito de desejos...
Frias tristezas indefesas,
Triste madrugada
Frios suspiros ,ora delírios,
Não sei se durmo de fato
Ou a tristeza é o próprio delírio
 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Alhos e Morangos


Parei o carro na fila do shopping, ainda na rua,
uma vendedora de alhos se aproxima;
pensei em comprar alguns:dizem ser bons
para exorcisar espíritos maus.Fiz um sinal com o dedo:
melhor não. Carro com cheiro de picanha mal-passada é?!
... Avancei mais um pouco.Um menino vendia morangos.
Pensei em adocicar minha boca. A fila andou rápido.
Deixei tudo para trás. Fui tomar meu café delicioso.
Coitados dos vendedores. Se estivessem na Transilvânia,
pintariam bocas de vermelho doce, feito vampiros, e espantariam
os maus espíritos, feito exorcistas.Ganhariam seu pão!

A Tal Alma

estou de estômago e mente vazios.
minha alma transita entre os dois
quem sabe pelo coração
se ao menos estiver pela metade.

domingo, 6 de novembro de 2011

PERSEVERANTE

Astuto
um homem ganha o mundo
ganha fama
sendo perseverante
astuto,enriquece.
outro homeme ganha fama
sendo meliante
corrupto,enriquece.
outros tantos ganham fama
atropelados lá adiante
na curva do viaduto:
Não foram astutos o suficiente
pra fugir  do meliante.

O Caos

o caos é o saco ao contrário
meu caos é quando a vida é um saco
meu saco é quando a vida é um caos
pior quando o saco vira o próprio caos
sem deixar de ser um saco:
um saco caótico!

sábado, 5 de novembro de 2011

Alvorada de Um Doido

Sigo
Cego
Mudo,
Mudo o rumo e sigo
No profundo da alma...
Cego continuo
Falo sobre minha gagueira, falo,
Cego do mundo
Mudo o rumo e paro,
Sento.

Sinto o frio da calçada
E a lama do mundo
Deito no leito dos excluídos
Deito , não durmo.
Sou mendigo bêbado de bêbadas idéias,
Sou as próprias  idéias arcaicas
Num corpo débil e imundo.

Falo sobre meu pensamento profundo
Falo a ninguém
Sou meu próprio ouvinte.
Agora vejo a noite vestida de névoa...

Vejo por alguns segundos os carros lindos passarem
Luzes e xales em chalés luxuosos
Pés descalços os meus,roupas rasgadas
E barriga à mostra
Cabelos ao vento gelado, crespos como a vida,
Negros como o asfalto molhado.

Desmaio com um raio da chuva na cabeça
Não sigo mais pelo mundo.
Piro e de vez expiro!
Vou para um outro mundo,
Não era o raio da chuva,
Era o fuzil
Cantando ao moribundo.
Sigo cego, mudo, leve
Não mudo o rumo
Vou no sentido do infinito...
Do infinito céu agora azul
 e bem mais bonito!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

                          O Trote


    Maria Luiza fez por merecer
Passou no vestibular entre os três melhores.
Direito não é fácil. Sofreu com o trote,
Chorou, deu uns tapas ,mas apanhou muito.
Até se mijou de medo e raiva.
    Pegou sua mochila e foi falar com o reitor:
-Esses alunos são uns animais. Esses trotes devem acabar
E o senhor é co-responsável. Deve dar um basta nisso.
-Minha querida, não é tão simples assim. Faz parte da
cultura , da sua própria cultura.Mas podemos apurar os fatos
e ver se houve exageros.E dizendo isso o reitor aproxima-se e  alisa-lhe os cabelos. Massageia
seus ombros e aperta seus braços.
    Maria Luiza entendeu o recado. Tirou a camiseta e mostrou seus seios
fartos e rosados. Sua beleza era simples e atraente.Sua inteligência que  era complexa:
Despiu-se por completo e entregou-se ao reitor.
    A diferença de idade nem era tanta. Dezenove anos não se distanciavam tanto assim
dos bem vividos cinquenta. Transaram animalescamente na escrivaninha, mas com o cuidado
de não fazer tanto barulho. Em vão. Quando a quase adolescente saiu da sala, os que aguardavam
na recepção perceberam que os cabelos desarrumados, o rosto pós-orgásmico e o ziper aberto do jeans apertado eram uma confissão pura.
    Pior que ela gostara da pegada.O reitor era bom na coisa.
No dia seguinte Maria Luiza vai ao primeiro dia de aula,de fato.
A primeira coisa que viu no edital ao lado da porta da sala foi:
"Reitor proibe trote na univerdidade". Sentiu-se meio anjo meio diabo, meio pudica meio puta.
Entrou na sala rapidamente, como um advogado que acabara de ganhar a causa.
Qualquer coisa seria melhor que apanhar em trote e se mijar de medo. Foi uma senhora troca: Uma trepada animalesca para acabar com trotes animalescos.

-

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

SINAIS DESPERDIÇADOS.

   Semáforo fechado. Sílvia retoca o batom.Calor infernal.
Afonso encosta ao lado, fumando.Trocam olhares.
Ele sorri e ela desdenha. Tem mais o que fazer.
   Sinal verde.Sílvia vai dar  aulas. Dureza  mulher
cinquentona manter-se no emprego.Sem marido então...
Afonso, sessentão, vai afogar-se num drink com um amigo:
Muito recente a separação, com três filhos.
   Os semáforos piscam só no amarelo,
depois da meia-noite. As ruas estão solitárias.
Também os corações de Sílvia e Afonso.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sulcos

Sulcos do meu cérebro
são caminhos sinuosos
 que não consegui percorrer.
São muitos pontos de interrogação
que se emendam e comprimem
 a resposta do que é meu destino.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Luto do Anjo.


    Coça a cabeça lateral com o dedo médio.
Não ficará sofrendo a viuvez por mais três anos.
Aqueles cabelos louros, pele café-com-leite, face
rosada e sorriso perfeito, sem contar o corpo escultural...
Seria uma ofensa à Natureza ficar sozinha.
    Tira o vestido preto na sala mesmo e vai até o quarto.
Abre o armário, pega o mais lindo vestido de festas.
Uma seda azul com brilho celeste.
Deixa separado enquanto toma um banho demorado. Sábado de primavera promete...
    Prepara-se com maquiagem e perfume típicos dos seus vinte e cinco anos.
Liga para Fábio, seu antigo namorado, e deixa um recado na secretária eletrônica:
-Fábio , eu sempre o amei e ainda o amo. Preciso de você.
    Aguarda dez minutos . Parecem dez anos, relembrando toda a sua vida.
Casara-se de barriga. Seu pai, um general aposentado, obrigou Venâncio, de dezoito anos ,a
lavar a sua honra, sem pensar na felicidade da filha.
Marta tinha então vinte e dois anos. Casou-se sem pompa e com poucos sorrisos.
No sexto mês de gestação perdeu o bebê. Nunca contou a ninguém que era portadora do vírus
da AIDS.
Venâncio viu-se desobrigado a continuar aquela farsa. Pediu o divórcio e mudou-se para São
Paulo. Lá seria mais fácil receptar as drogas . O Rio de Janeiro já estava na mira dos policiais e
também das milícias.Estava na flor da idade. Queria curtir a sua vida, ainda que desregrada.
    Passaram seis meses e Venâncio foi morto num suposto acerto de contas, covardemente
crivado de balas nas costas.
Marta não deu a mínima para a sua morte . Além de estuprador, ele sabia que era
portador do vírus e não quis nem saber.Não contou, nem usou camisinha.
    A depressão veio mesmo quando soube do casamento de Fábio e Ângela. Esta, de anjinho só
tinha o nome. Sua melhor amiga lhe passara a perna. A sorte é que não tiveram filhos.
Passados os dez minutos, Fábio liga de volta:
-Marta, também quero vê-la. Encontre-me no Terra-Sul bar. Lá é discreto e ninguém conhece a
Ângela.
-mas,...e ela?
-Foi para a casa da minha sogra. A mejera está nas últimas.
-Às onze ?
-Combinado.
    Os dois chegam praticamente juntos. Cumprimentam-se numa abraço demorado e estalam
dois beijos molhados nas faces sorridentes. O ambiente chique exibe luzes baixas, com poucas
pessoas e som ameno. Conversam muito, dão gargalhadas, revivem os velhos tempos...
Foram três anos sem se verem ou se falarem.
Parecia um casal perfeito numa noite perfeita.
    De súbito Marta fecha a cara. Parecia não acreditar.
A anjinha do mal acabara de entrar,bufando, soltando fogo pelas ventas.
Aos berros entrelaça suas mãos nos cabelos de Marta e num giro circense levanta-a da cadeira,
ignorando a tentativa de intervenção do marido. Vão atracadas até a sacada do grande recinto.
Estava uma noite linda, estrelada e com um vento suave. Mas os gritos e xingamentos
acabaram com toda a magia. De simples briguinha de mulheres, a coisa vai ficando mais séria.
    Os puxões de cabelo são substituídos por socos, chutes, tapas. Num dos golpes desferidos,
Ângela vai ao chão, com o nariz e a boca sangrando. Ainda semi-deitada, puxa uma pequena
pistola prateada de sua bolsa vermelha, aponta-a em direção à rival e ameaça:
-Sua vaca, biscate, quer roubar o meu marido, é?
Marta fica estática diante daquela ameaça assustadora, mas nem por isso deixa de falar as suas
verdades.
_Vaca é você, vadia, traíra, que se dizia minha melhor amiga e roubou o meu homem.
    Fábio assiste atônito ao triste espetáculo, posicionado entre as duas, braços entreabertos, com
um olho na pistola e o outro na sua amada. Temia pelo pior. Os garçons ficam escondidos e a
maioria dos clientes já havia saído, desesperada.
    O gerente já chamara a polícia e espiava ao fundo, vez por outra escondendo-se atrás de um
pilar.
Fábio intervém como pode:
-Calma gente. Ângela, abaixe essa arma. Você vai acabar fazendo besteira. Deixe isso para
lá, vamos conversar.
-Conversar o que seu paspalho, maldito, você é outro que não vale nada!
    Enquanto a discussão parece polarizar-se, Marta aproveita a distração da rival e num rápido
salto apoxima-se, tentando pegar a pistola. Ambas se atracam novamente. Dessa vez Fábio
tenta ao máximo neutralizar os golpes de sua inconseqüente esposa. Poucos segundos depois
ouvem-se dois tiros, gritos e finalmente o trio separa-se. Fábio leva a mão ao peito sangrante:
_Ângela, o que você fez?
    As duas mulheres ficam emudecidas, enquanto Fábio cai grosseiramente ao chão. As fragrâncias
femininas misturam-se ao odor quente do abundante sangue de Fábio. Tanto sangue perdido não
poderia deixar alguém vivo.O blazer cinza não escapa da mancha medonhamente vermelha e
tampouco a camiseta branca que usava por baixo.
    A voz de Marta finalmente sai:
-Sua assassina, olhe o que você fez, olhe sua piranha, desgaçada!
E dizendo isso deita-se ao lado de Fábio , aos prantos, tentando, em vão, acordá-lo .
Ângela não diz nada. Afasta-se passo a passo, para trás, peplexa, com os olhos ainda naquele
trágico espetáculo. Usava um vestido longo branco que contrastava com a sua linda pele
morena.As alças longas quase deixavam os seios a mostra.Os grandes olhos verdes pareciam
ainda maiores e mais brilhantes.
    Sem perceber e antes que Marta tentasse avisá-la do perigo, Ângela desequilibra-se na cerca de
um metro e meio e despenca do vigésimo andar.
Marta chega tarde , após outro grito,dessa vez agudo e rouco, e volta a se agachar perto do seu
amado.
Finalmente estavam juntos, mais perto que nunca. Viveria agora o seu verdadeiro luto.
    Hoje, dois meses após a morte de Fábio e Ângela, Marta presta assistência a adolescentes,
vítimas de estupro, numa ONG do Rio.
Não poderá te filhos, devido ao problema da primeira gavidez que exigiu a retirada do útero.
Teria dito isso ao Fábio naquela noite. Mas não houve tempo. E o céu estava tão lindo.Não
permitiria histórias tristes.

LEITE BOM PRA GENTE RUIM



POLÍTICOS LÍTICOS
JURÁSSICOS
CHEGA DE TOMAR O LEITE ALHEIO
MAMADO EM TETAS GROSSAS
DOCES TETAS DA DÓCIL MÃE GENTIL
OU SUBTRAÍDO DAS CAIXINHAS DA ESCOLAS
ORA- BOLAS
O LEITE BOM É PARA OS BONS MENINOS
E MENINAS DO BRASIL
LEITE BOM PRA GENTE RUIM
SÓ TERMINARIA EM INDIGESTÃO
DA DEMOCRACIA PUTA QUE OS PARIU!

sábado, 15 de outubro de 2011


Sobre a ''Lavoura Arcaica'':



Entre a fome e a ânsia
de luz
há um lapso para comer
orações
e vislumbrar sonhos.


Omar.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

PRECISO FALAR DE MIM
HOJE TENHO UMA TAREFA
PRECISO FALAR DO MEU "EU"
ESSE DESCONHECIDO
UMA TAREFA TÃO DIFÍCIL,
COMPLEXA, TRAIÇOEIRA...
FOSSE FALAR DE UM PEDAÇO DELE
TALVEZ ENCONTRASSE ALGO FÁCIL
COMO O SEU NARIZ TORTO
OU O SEU OLHAR
DE PEIXE MORTO,
MAS, FALAR DESSE "EU" PROFUNDO,
DESCOLADO E LONGE DE MIM
É TÃO COMPLICADO!
PODERIA FALAR DOS SEUS SENTIMENTOS
SEUS AMORES, SUAS ALEGRIAS,SUAS DORES
SEUS SONHOS DE MENINO...
QUE BRIGOU POR PAIXÃO, PELA VIDA...
QUE TANTAS GARGALHADAS DEU COM SEUS AMIGOS
QUE TANTAS LÁGRIMAS DERRAMOU, EMPUTECIDO,
POR MULHERES LINDAS E VOLÁTEIS COMO AS NUVENS.
POSSO FALAR DA SUA POESIA,
SEU PRINCIPAL ABRIGO
POSSO FALAR QUE , APESAR DOS TOMBOS,
PROCURA POR PAIXÕES, SEMPRE,
POSTO QUE SÓ SE ALEGRA COM ELAS
A PAIXÃO POR TODO O UNIVERSO
QUE É UM GRANDE ENIGMA.
ORA UMA TRISTE CELA
ORA UM MATERNO VENTRE.
POSSO FALAR DOS SEUS MEDOS
MEDO DE AVIÃO, DE CANHÃO, DE SEPARAÇÃO
MEDO DE PERSEGUIÇÃO, DE DITADURAS E MENTES MOLES.
MEDO DE ERRAR, MEDO DE TER MEDO.
 
POSSO FALAR DO SEU MEDO DE NÃO AMAR OU
DE AMAR DEMAIS. E O DOLOROSO ENREDO
DE NÃO SER AMADO.
MAS, FALAR DO "EU" ASSIM
TÃO TODO, TÃO EXPOSTO
TÃO ISOLADO...CHEGA A DAR UM FRIO NA BARRIGA,
É COMO TER UM FANTASMA ACIMA DE MINHA CABEÇA
E EU DEITADO COM MEU CORPO DÉBIL
ESPERANDO O MOMENTO DE NOS REENCONTRAR.
NÃO SEI SE CONSIGO FALAR DESSE "EU"
ELE TALVEZ TENHA MUITOS PEDAÇOS
ORA SOLTOS, ORA COESOS,COMO TANTOS OUTROS ´´EU"
PEDAÇOS, SÓ PEDAÇOS IMPERFEITOS
VIVENDO NUMA NATUREZA PERFEITA..

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

DÚVIDA

        
Não sei se os teus olhos falam
o que a tua boca porventura oculte
Não sei se os nossos corpos se
colarão um dia
Num descompasso de palpitação mútua...

Não sei se perderemos o fôlego, tamanha paixão,
e transpiraremos
Numa louca noite de amor,
ou se choraremos
de tanta saudade da noite  que não ocorreu.

Se um dia falaremos com todas as letras
ou se o ferimento no coração será só  meu.

Não sei se os lábios se encontrarão trêmulos,
sorridentes,
Ou se afogarão em lágrimas que verteram ,tristes,
em faces de pedra.

Não sei se o destino é a favor ou contra,
ou se o que o escreve é o coração.

Não sei se verei esse desfecho
Mas  apenas sonhar
contigo ao meu lado
 me faz feliz por um segundo.
É como  se estivesse sempre contigo
Sem nunca ter estado.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O QUARTO DE JEANE

Quarto negro e laranja
Quarto não
Sala de aula
Pessoas falantes
Não
Amantes da alma
Conversas paralelas
em semilua
Vidas nuas e cruas.
Estamos à beira da rua
Lupah é o lugar
Anjos são essas lindas pessoas
a cantarolar.


Este poema fiz em cinco minutos, durante a aula inaugural
da professora e amiga Jeane Hanauer, em 04 de outubro de 2011.

VAI EMBORA, MAS NÃO ME DEIXES

Olha no olho do furacão
Pra ver se me encontras lá
Vê minha alma pequena
De tanto me estrepar.

Sê a minha tara
De te ver passar.
Foge do meu grito
Arranca-me do pesadelo
Da mula-com-cabeça
Com cabeça de infinito.

Pára no sinal
Daquela avenida esquisita
Deixa o meu corpo débil entrar.
Acaricia a minha cabeça
E antes que eu adormeça
Me beija a face doída
De tanto me estrepar.

Some no horizonte
Que eu sou um rinoceronte
Que só quer trepar.

Volta e me acolhe
Não me deixes na rua
Pra eu não mendigar
Uma palavra tua.
 
Vai embora
Volta
Me abraça
Me solta
Entende
A minha hora.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Cronópios

Participei da aula inaugural da professora e escritora Jeane Hanauer. Uma oficina de poesia, ou melhor dizendo, da arte poética.
A Jeane,assim como eu, é dessas pessoas que vêem poesia em tudo, na alegria, na tristeza, no sol, na chuva..
Teremos encontros uma vez por semana, por 2 meses. A aula inaugural foi nota 10.
Tenho a certeza de que os próximos encontros serão igualmente prazerosos.
Quem tiver interesse, http://www.jeanehanauer.blogspot.com/
Abraços.

Mente poeta.

Caríssimo blog. Hoje parece que o pari. Pelas mãos e pela boca,eu o pari.
Diferente. Antigamente as colegas de escola tinham diários e caderninhos
para anotações de amigos, para servir de  recordação.
Sinto-me mais ou menos assim,só que com um microcomputador.
Mas, aqui há a instantaneidade generalizada. Todos vêem, escrevem e trocam
informações ao mesmo tempo. Interessante como o micro parece ser uma extensão
da nossa mente. Aliás, cabe aqui uma explicação do nome ``mente poeta``.
Quis mesmo dar esse duplo sentido: ``a mente que faz poesias'',ao mesmo tempo
em que o imperativo afirmativo sentencia ``mente tu, oh poeta'',pois  tua obra depende de
encenações, fantasias, que são mentirinhas literárias.
Vou mentir muito nesse blog, já que o poeta precisa fingir-se apaixonado, desiludido, irado.
Muitas vezes escreverei verdades, pois os sentimentos verdadeiros, às vezes, sobrepõem-se à ficção
e então ganhamos um lindo poema autobiográfico. Esta é a beleza da poesia. podemos ser nós mesmos
ou fugir de nós.Podemos ser a personagem ou nos refugiarmos nela.
A poesia é um fato, uma constatação, não uma escolha. Não há como negar que existe poesia ao nascer
do sol ou num lindo entardecer, como não há como negar o ar, o mar, a Terra.
Todos somos poetas. Cada um pode gostar ou não disso, mas é um fato. Não há nada mais poético que o
primeiro choro de um lindo recém-nascido.Poesia pura que diz ''Estou aqui , mundo! Cheguei para ficar e lutar''. Uma poesia épica. Que dizer daprimeira paixão? Pura poesia no olhar derretido e tímido. E com ausência de palavras. Somos todos poetas. Só não sente quem não quer.Ou quem ainda não nasceu.