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sexta-feira, 25 de maio de 2012

São Paulo,Santa?

       Milena chegou à casa cedo; Despiu-se,calçou os chinelos e foi direto ao banho.
"Que saco"-pensava ela-"Por que essa merda de transporte público não funciona?"
Enquanto passava um shampoo de algodão e aveia, massageando vigorosamente
o couro cabeludo,deixando os negros fios sedosos em pé, parecendo uma medusa, começou a repassar o seu dia, para ver se não se  esquecera de  nada.
       Lembrou-se daquela manhã fria de outono, os espirros que dera-sempre espirrava de manhã ,por uns dez minutos.Tinha-se esquecido de comprar o antialérgico. Deu mais uma estudada na matéria e foi encarar a prova de Geografia .Enfrentou um trânsito pesado,presenciou um assalto e um atropelamento de moto."São Paulo é uma merda mesmo. Moro aqui na casa do cacete, estudo na puta que pariu e trabalho na bosta do centro. Perco quase duas horas a cada ida e vinda.Preciso mudar dessa merda de cidade". Enquanto pensava alto lembrou-se de  que finalmente era sexta-feira:"Ah, a sexta-feira promete,vou me acabar na balada do Dj Miltinho, aquele gato. Se ele não fosse casado..."   
       Muitos pensamentos borbulhavam em sua cabeça, enquanto embebia a sua pele com um sabonete líquido e fragrância de rosas. Começou massageando os ombros,depois o pescoço e a barriga de modelo. Quando chegou às pernas, sua mãe bateu à porta e com um grito amável deu-lhe o recado:"Filhinha, a Bia tá no telefone,quer saber se pode passar aqui"
"Tá, mãe,fala pra ela vir que eu já tô terminando".Desligou rápido o chuveiro e passou a toalha nas costas. A toalha branca contrastava-se com sua pele morena,  e assim mais  pareciam uma pintura refletindo-se no espelho, ou uma foto antiga, daquelas revistas da década de cinquenta. Não daria tempo para secar os cabelos. A Bia morava pertinho e no máximo em dez minutos estaria ali."Vou secar os cabelos sim, porque lá fora já tá friozinho e tô sem meu antialérgico".
        A Bia chegou, como de costume sentou-se à mesa da cozinha e ficou de papo com dona Lara: "Dona Lara, como é que a senhora tá se virando depois da  morte do seu Donizete? Só vocês duas , deve ser uma barra, né"?
A mãe de Milena balançou a cabeça, esboçou um sorriso, respirou fundo e tentou uma explicação:"Ah, minha filha, a vida prega cada peça na gente! Já se passou um ano e ainda não
consigo esquecer. Ainda mais sabendo que foi aquela biscate que causou tudo. Se ele não estivesse no motel com ela, se não tivesse bebido, não teria batido o carro...
E o duro é que a piranha, me disseram, já tá com outro; Mais um trouxa pra cair na sua teia. Mas é isso, minha filha , a gente vai levando. O duro tá sendo pagar as contas  que ele deixou. Mulherengo, cachaceiro e jogador. Eu poderia ter achado alguém melhor"! Bia ouvia tudo atentamente, com uma mistura de raiva do falecido e pena da mãe de sua melhor amiga. No instante em que a conversa sofria uma pausa melancólica, Milena apareceu na sala, linda, sorridente, radiante, cheirosa.O vestido verde, acima dos joelhos,bem acima,também era generoso nos ombros, nas costas  e nos seios. Um colar simples deixou o conjunto ainda mais elegante e sensual. Logo deu um beijo  na amiga, igualmente linda,  e as duas saíram  para a balada: "Tchau, mãe,não me espera, hein?" "Tchau, meninas, divirtam-se, mas cabeça no lugar tá"?
        Pegaram o elevador e engataram uma fofoquinha: "Nossa, Milena do céu, você viu a Mara, viu o que ela fez? Engravidou de um cara lá daquela cidadezinha de merda, agora vai casar e morar lá, pode"?  "Deus que me livre, Bia, não troco São Paulo por nada nesse mundo. Nem por homem nenhum, nem mesmo o Miltinho! Amo essa cidade, amo essa bagunça, as baladas, até o cheiro de poluição me faz falta, quando viajo, sabia"? Saíram do elevador, pegaram o carro na garagem e foram para o agito da noite. Enfrentaram um pequeno congestionamento. Nada mais que uma hora. Aproveitaram para falar da Aline, a moça  que,segundo sua mãe, havia sido a responsável pela morte do pai."Ela já deu mole até pro Miltinho!Mas, hoje eu pego ele"! gritou  Milena, entre gargalhadas e espirros, enquanto cruzavam a Avenida Paulista. 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Brasileira E Brasileiro

Sei não Zé, sei não,
o tempo passô,
nóis votô,
você si ferrô,
eu si ferrei,
tudo nóis si ferremo
e os home lá em cima
ainda roba mais que ladrão.
Que é que fazemo?
Sei não, Maria, sei não.
Ara home,larga a mão sô,
ocê bem que podia pegá uns escrito,
uns apareio de som da igreja,
reuni o pessoar todo
e fazê passeata, que nem nos oriente!
num podemo ficá de mãos parada
e eles levando tudo de bandeja.
Sei não, Maria, sei não.

domingo, 6 de maio de 2012

     Caídos ,Mas Escrevendo
Quisera estar no Salão
ver amigos e livros de montão
mas estou de molho
com dor na cabeça, no olho
na testa e no pulmão.
E meu amigo Antônio,coitado,
caiu no ladeirão,
bicicleta traiçoeira, também a lombada,
puseram-no ao chão...
Machucou a face,agora enfaixada,
também não foi  ao Salão.
Estamos cá ,não na solidão,pois
em pensamento estamos aí,
pelos estandes e pelo saguão.
Aos amigos um grande abraço,
logo voltaremos à nossa estrada,
oxalá esbanjando, todos, saúde,
inclusive nós dois,
jogando palavras fortes como aço!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Tetê

Fica ligada
Alguém te vê...
(Fique ligada
tv)-comando de voz
é sensacional.

Fica de lado
Tetê
Vou até aí
comer o enrolado...

Cuidado, o forno,
o forno queima,
meu corpo queima
de saudade de te ter.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ah,Caneta!

Caneta azul
vermelha
caneta preta
anjo e capeta
caneta perneta
luneta e escopeta
caneta triste
caneta alegre...

Caneta velha
velha caneta
amiga careta
caneta amor-e-ódio
caneta da minha vida
caneta da minha morte
meu mote
minha vinda e minha ida
caneta, querida caneta!

Elô

Elô,
sorriso farto,
brancas pérolas
a refletir sonhos
em face de flor.

Verdejante olhar
como folhagens
em jardins de praia:
Talvez miragem,
palmeira no deserto
a se espraiar...
Talvez oásis pleno,
talvez o próprio mar.