Sou carne retorcida
de água embebida
e ossos duros
de roer.
Sou palavra podre
"Poeta, não se intrometa"
-disseram os monges-
com as mãos trêmulas
nas divinas escrituras.
Sou o olhar contemplando vivas estrelas
"Louco, não há vivas estrelas a contemplar"
-disseram os cientistas.
Sou marginal do pensamento
"Poeta"- disseram os não-poetas
"Você não sabe pensar".
Sou o amor de faz-de-conta
"Louco"-disseram os não-amantes
"Desse jeito não se pode amar".
Sou a tristeza na multidão
a felicidade da árvore única
a dor e a alegria
da imensidão que seria
vivência de misturas...
"Chega!"-gritaram os zumbis-
"Você não sabe viver
é só mais um poeta".