Arlete agonizava. Não entendia o porquê de tanto ódio.
Ao mesmo tempo não queria pensar em nada, a não ser na
própria sobrevivência.
Morrer num shopping não era o que imaginava para si.
Ainda mais na véspera do aniversário de seu casamento. Triste,
muito triste para uma menina de vinte e um anos, bonita e cheia
de sonhos, inclusive o de ser mãe. "Por que alguém atirou?"-Pensava
ainda espantada com a ação do assaltante."Eu nem reagi e ele já chegou atirando."
Uma multidão já a circundava e , não fosse pela beira da morte, o shopping estaria lindo,
cheio das luzes de Natal e enfeites vermelhos, brancos e pretos.
Arlete pensou nos pais primeiro, depois no marido e ,por fim, nos filhos que não poderia mais ter. A dor havia passado, mas não o sentimento de culpa por ter ido justamente àquele shopping.
As lojas já estavam fechando as portas, mas não aquelas no seu entorno , de tanta gente que assistia ao triste espetáculo. Policiais, para-médicos, voluntários, curiosos, quem sabe até o assaltante estivesse ali...
Todos boquiabertos, alguns com as mãos à cabeça, outros , no queixo. Muitos murmuravam quaisquer coisas sobre a falta de segurança . Sîlêncio súbito, Arlete não mais respirava. As pessoas passaram a se dispersar aos poucos: Mais um corpo entraria no Instituto Médico-Legal naquela noite.Os familiares não dormiriam, tamanha era a tristeza. As estatísticas aumentariam e o assaltante tomaria uma pinga no bar da esquina. No dia seguinte a vizinhança comentaria " Esse mundo tá muito perigoso". E o poder público reforçaria o policiamento para até depois do Natal. No Congresso Nacional os políticos tratariam de mais uma CPI da corrupção e de uma audiência pública para debater a campanha do desarmamento.
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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
domingo, 13 de janeiro de 2013
Indulto
,
Foi tudo em vão
passei pro banco de trás
deitei-me e chorei...
As estrelas corriam rápido
assim como os carros e as pessoas...
A chuva não veio
mas mandou a sua tristeza.
Deveria ter sido um dia chuvoso.
As árvores balançavam tanto
menos um galho, o daquela árvore.
Enrijecido, seco, quase morto,
ele parecia triste entre as dezenas
de majestosos galhos verdejantes.
As lágrimas caíram no tecido velho,
o cheiro da poeira se misturou a elas
e ao da fumaça do escapamento...
Pensei em ir embora a pé,
mas o motorista tentava me consolar,
mostrando a beleza da cidade e suas luzes,
e havia uma trava de segurança,
segurança? Senti-me enclausurado,
ouvindo sem escutar...
Já não via o galho seco
já não corriam as estrelas, nem o carro.
Motorista estacionou no que parecia ser um hospital.
Era outra internação. Adormeci.
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